sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Escola Oficina nº 1

Quando eu era pequena via a "minha escola" da minha irmã mais velha, Maria Cecília, como uma entidade mítica que, quando por ela mencionada, designadamente quando a família se reunia nos aniversários dos meus sobrinhos, levava que marido e filhos (comandados por aquele) se levantassem.
Era motivo de ternurenta brincadeira a saudade que a minha irmã tinha da sua Escola, onde fora tão feliz, e que para ela tinha sido a escola perfeita. E tal como nessa altura,ainda, hoje já quase sem memória nem do presente nem do passado, continua a recordar-se perfeitamente, e com enorme saudade da " minha escola".

Situada no Largo da Graça, um bocado afastada da residência dos meus pais, a frequência daquela escola por parte dos meus irmãos resultou da procura que a minha mãe fez, perante as sucessivas recusas da minha irmã em frequentar duas ou três que visitaram antes e que, por um motivo ou por outro, rejeitara.
Mais tarde, o nosso irmão que tinha, entretanto entrado para a escola do Centro Republicano Botto Machado, Centro de que o meu pai foi sócio durante muitos anos( penso que até falecer), veio também a frequentar a Escola Oficina, da qual, conforme a minha cunhada me refere, também recordava com saudade.

Aquela escola, criada nos primeiros anos da 1ª República pela Maçonaria, permaneceu até à altura em que os meus irmãos mais velhos a frequentaram, já nos anos 30 do século passado, uma escola libertária, em que as crianças gozavam de grande liberdade (durante as aulas não precisavam de pedir autorização para sair da sala, conforme a minha irmã sempre salienta como exemplo). Ela faz também constante referência ao facto de as raparigas trabalhare em madeira tal como os rapazes, e estes fazerem trabalhos em ráfia, por exemplo. Sempre deu grande enfase à associação de alunos (A Solidária), de que a minha irmã foi tesoureira e não sei se algum ano presidente da direcção. Penso que a minha irmã me referiu que eram as próprias crianças que faziam a sopa que depois era também por elas distribuida gratuitamente aos alunos pobres.
Também é por ela realçado as condições pedagógicas de que a Escola estava dotada, designadamente os laboratórios, referindo sempre o ensino da biologia apoiado no necessário material, designadamente animais embalsamados um esqueleto humano, pormenor que para ela terá sido muito relevante, pois é sempre este aspecto que ela salienta.

Na visita recente que fiz à Cordoaria Nacional para ver a exposição "República", encontrei uma referência alargada a esta experiêncis pedagógica, que não pude deixar de fotografar para mostrar à minha irmã, e que aqui reproduzo.
Embora estas fotos se reportem a 1918, não custa pensar que as condições não se deverão ter alterado até à altura em que os meus irmãos frequentaram aquela escola.