Associado ao candeeiro de petróleo tenho bem presente um episódio passado quando eu teria os meus 10 anos.
A nossa mãe teve que ir a Lisboa e nós ficámos sozinhas, com o nosso sobrinho Rodrigo.
Nessa noite, depois de nos deitarmos, começámos a ouvir um forte e sincopado ruído, que parecia pontapés numa porta. Calculámos que fosse o Rodrigo a bater com os pés nas tábuas de madeira que ladeavam o sítio em que ele dormia, no quarto contíguo. E lá fomos nós de candeeiro de petróleo acesso, verificar. Mas ele dormia profunda e sossegadamente. Então fomos revistar todas as divisões e cantos da casa, enquanto a Linda dizia “Se for um ladrão, atiro-lhe com o candeeiro para cima”. Aí, eu aterrorizada, não pelo risco ladrão nos fazer, eventualmente, mal, mas por o ver já a arder envolto em chamas, lá a seguia desejando, ardente e aflitivamente, não encontrar ninguém. Quando voltámos ao 1º andar, depois da ronda feita e sem encontrar qualquer ladrão nem a causa do ruído, voltámo-lo a ouvir e, nessa altura confirmámos a nossa ideia inicial. Era o sr. Rodrigo, que embora adormecido, dava pontapés na parede!
E lá me fui deitar descansada e, também, aliviada por a minha irmã não ter morto ninguém naquela noite!
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Memórias 14
Tal como a Cristina,também eu gostava bem dos candeeiros de petróleo, e recordo como eram agradáveis os serões que passávamos a jogar às cartas à sua luz, eu, a Linda e o nosso pai, quando este vinha ao fim de semana. Não me lembro da minha mãe jogar, mas também não vejo que fosse possível jogar à sueca sem sermos 4 os parceiros. E nós jogávamos à sueca, para além da bisca e do burro.
Lembro-me de nós as duas (eu e a Linda, claro) jogarmos muito ao burro em pé, e depois, quando eu era mais velhinha, ao crapô (será que é assim que se escreve?). Passávamos horas a jogar este jogo em cima da cama da Linda. Também jogávamos às Damas. A Linda fez um tabuleiro em cartão forrado a papel branco onde ela desenhou os quadrados e pintou uma parte deles a vermelho. Também fez as pedras com que jogávamos. Serrou rodelas no número necessário de um cabo de vassoura e pintou uma parte delas com vioxene (como se escreverá?) que é uma espécie de tinta castanha utilizada para a madeira.).
E assim passávamos agradáveis horas, sem necessidade de rádio (que até o meu pai comprar uma telefonia a pilhas, antes de termos electricidade instalada) ou de televisão (que também só passou a haver mais tarde).
Claro que quando passou a haver televisão na Sapataria, no café do Armandino (nessa altura ainda não era dele mas do pai, o Sr. Barros, que tinha também , há muito tempo, uma “loja” na Moita, e que era correspondente do jornal, julgo que do Século), passei a lá ir com algumas pessoas dos Galegos, julgo que com o Chico, rapazinho filho da Sra. Adelina, e, penso também com esta, e possivelmente com a Maria Odília e o João Fernando, filhos da Menina Maria e do Sr. João Novo. E tenho a impressão que uma vez fui, para lá sozinha, embora fosse noite (as emissões eram só à noite, despois das 21 horas) e fossem 20 minutos de caminho sem qualquer iluminação.
Mas antes, e quando era mais pequena, a nossa diversão nocturna, depois de nos deitarmos, era adivinharmos canções. Uma entoava a melodia e a outra tinha que adivinhar qual era a canção. A Linda facilmente identificava as que eu cantarolava, agora eu não conseguia identificar nenhuma. E porquê? Porque eu tinha mau ouvido ? Não, porque a Linda era mais que desentoada. Quando,após várias tentativas, eu desistia de adivinhar e ela dizia qual era a canção, era a gargalhada geral. Recordo-me bem da nossa mãe nos mandar calar e nós continuarmos naquela brincadeira até ela se zangar porque era tarde e no outro dia iriamos acordar também tarde.
Como a casa era "nossa" e tinha vários quartos, passámos a ter "visitas" a passarem alguns dias connosco. Os filhos da minha irmã mais velha eram presença habitua´l e passavam temporadas connosco, mas também aquela esteve, por vezes, lá alguns dias de férias, tal como o meu irmão e família.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0CcFB-tdQxfzTMvbDe7OY_x2apCp6VW2q0lnTbfYox6zF2WuhDuTZy1grSLXuxhWH7DLTmKkp_nlGier8z1BNLRDoPfNgw_eNmj6qvmZqY3uQFLcbbrNvKl4H6KAwcSkL_6DxKQq5Uw12/s400/familia.bmp)
Esta foto foi tirada ao pé da "eira do Sr. Domingos", exactamente sobre o declive para onde a Linda caíu quando foi buscar a bola de voley, e de onde saiu toda arranhada, como já relembrei em "memória" anterior
Ao longe vê-se a Moita, hoje descaracterizada por um conjunto habitacional (que não tem nada a ver com a zona rural que esta fregesia é) na estrada que sobe para aquele local
Também aqui foi tirada esta foto, quando eu teria os meus 12, 13 anos, altura em que fui bastante "gordinha"
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihYAA_ga-cEq7bpXxMcF_qEcPrIUiIlZMAqUy6O53q0dfXBdACd_msXx-68i5kAH0Vb6qG8jtlVDBQG2IFgIAIwVclkCk5XlcjjLVk-11GWF5eAJ8BJNDqN2yvs2hq5kUfumIKrZpCNkT1/s400/aida8.bmp)
De vez em quando iam visitar-nos irmã do meu pai que vivia no Cacém, a tia Elisa, com o tio Zé, e o seu horroroso cãozinho, velhote e todo deformado.
Também me recordo de lá ter ido o tio Alexandre (irmão mais velho de minha mãe, que era professor em Viana do Castelo), e a tia Rita, e de ter ido passear com eles a Mafra.
Lembro-me como me diverti com os ciúmea do meu tio na estação de comboio de Mafra:"Ritinha, olha a saia, não vês que estás a mostrar as pernas!" Isto quando a minha tia já teria mais de 50 anos, e os homens presentes eram jovens militares!
Mas tínhamos outras visitas para além da família.Tivemos várias vezes a visita de uma senhoara amiga da minha mãe, a D. Silvina, com as suas duas filhas (mais ou menos da idade da Linda), e durante alguns anos da minha adolescência a companhia da minha amiga Isabel, que durante uns anos passava, com os pais, 8 ou 15 dias de férias connosco. Nessa altura já a Linda trabalhava e era esta grande amiga a minha companhia mais desejada e apreciada.
Lembro-me de nós as duas (eu e a Linda, claro) jogarmos muito ao burro em pé, e depois, quando eu era mais velhinha, ao crapô (será que é assim que se escreve?). Passávamos horas a jogar este jogo em cima da cama da Linda. Também jogávamos às Damas. A Linda fez um tabuleiro em cartão forrado a papel branco onde ela desenhou os quadrados e pintou uma parte deles a vermelho. Também fez as pedras com que jogávamos. Serrou rodelas no número necessário de um cabo de vassoura e pintou uma parte delas com vioxene (como se escreverá?) que é uma espécie de tinta castanha utilizada para a madeira.).
E assim passávamos agradáveis horas, sem necessidade de rádio (que até o meu pai comprar uma telefonia a pilhas, antes de termos electricidade instalada) ou de televisão (que também só passou a haver mais tarde).
Claro que quando passou a haver televisão na Sapataria, no café do Armandino (nessa altura ainda não era dele mas do pai, o Sr. Barros, que tinha também , há muito tempo, uma “loja” na Moita, e que era correspondente do jornal, julgo que do Século), passei a lá ir com algumas pessoas dos Galegos, julgo que com o Chico, rapazinho filho da Sra. Adelina, e, penso também com esta, e possivelmente com a Maria Odília e o João Fernando, filhos da Menina Maria e do Sr. João Novo. E tenho a impressão que uma vez fui, para lá sozinha, embora fosse noite (as emissões eram só à noite, despois das 21 horas) e fossem 20 minutos de caminho sem qualquer iluminação.
Mas antes, e quando era mais pequena, a nossa diversão nocturna, depois de nos deitarmos, era adivinharmos canções. Uma entoava a melodia e a outra tinha que adivinhar qual era a canção. A Linda facilmente identificava as que eu cantarolava, agora eu não conseguia identificar nenhuma. E porquê? Porque eu tinha mau ouvido ? Não, porque a Linda era mais que desentoada. Quando,após várias tentativas, eu desistia de adivinhar e ela dizia qual era a canção, era a gargalhada geral. Recordo-me bem da nossa mãe nos mandar calar e nós continuarmos naquela brincadeira até ela se zangar porque era tarde e no outro dia iriamos acordar também tarde.
Como a casa era "nossa" e tinha vários quartos, passámos a ter "visitas" a passarem alguns dias connosco. Os filhos da minha irmã mais velha eram presença habitua´l e passavam temporadas connosco, mas também aquela esteve, por vezes, lá alguns dias de férias, tal como o meu irmão e família.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0CcFB-tdQxfzTMvbDe7OY_x2apCp6VW2q0lnTbfYox6zF2WuhDuTZy1grSLXuxhWH7DLTmKkp_nlGier8z1BNLRDoPfNgw_eNmj6qvmZqY3uQFLcbbrNvKl4H6KAwcSkL_6DxKQq5Uw12/s400/familia.bmp)
Esta foto foi tirada ao pé da "eira do Sr. Domingos", exactamente sobre o declive para onde a Linda caíu quando foi buscar a bola de voley, e de onde saiu toda arranhada, como já relembrei em "memória" anterior
Ao longe vê-se a Moita, hoje descaracterizada por um conjunto habitacional (que não tem nada a ver com a zona rural que esta fregesia é) na estrada que sobe para aquele local
Também aqui foi tirada esta foto, quando eu teria os meus 12, 13 anos, altura em que fui bastante "gordinha"
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihYAA_ga-cEq7bpXxMcF_qEcPrIUiIlZMAqUy6O53q0dfXBdACd_msXx-68i5kAH0Vb6qG8jtlVDBQG2IFgIAIwVclkCk5XlcjjLVk-11GWF5eAJ8BJNDqN2yvs2hq5kUfumIKrZpCNkT1/s400/aida8.bmp)
De vez em quando iam visitar-nos irmã do meu pai que vivia no Cacém, a tia Elisa, com o tio Zé, e o seu horroroso cãozinho, velhote e todo deformado.
Também me recordo de lá ter ido o tio Alexandre (irmão mais velho de minha mãe, que era professor em Viana do Castelo), e a tia Rita, e de ter ido passear com eles a Mafra.
Lembro-me como me diverti com os ciúmea do meu tio na estação de comboio de Mafra:"Ritinha, olha a saia, não vês que estás a mostrar as pernas!" Isto quando a minha tia já teria mais de 50 anos, e os homens presentes eram jovens militares!
Mas tínhamos outras visitas para além da família.Tivemos várias vezes a visita de uma senhoara amiga da minha mãe, a D. Silvina, com as suas duas filhas (mais ou menos da idade da Linda), e durante alguns anos da minha adolescência a companhia da minha amiga Isabel, que durante uns anos passava, com os pais, 8 ou 15 dias de férias connosco. Nessa altura já a Linda trabalhava e era esta grande amiga a minha companhia mais desejada e apreciada.
Memórias 13
Outra coisa que me custava muito era a tarefa, que me estava atribuída pela minha mãe, de pregar os botões que eventualmente faltassem nas fronhas das almofadas. Assim, quando íamos para o pinhal, o que acontecia todos os dias, lá tínhamos que levar junto (com umas almofadas coloridas e com uns folhos, para nos recostarmos quando nos deitássemos), a caixa da costura e algumas peças de roupa, umas para eu pregar os botões, outras para a Linda passajar. A memória que eu tenho é que isso acontecia todos os dias, o que não deve ser real, pois com certeza não haveria tantos botões para pregar, nem coisas para passajar! Hoje atribuo a minha falta de gosto em coser com essa “terrível”obrigação.
Mas era tão bom ir para o pinhal! Seguíamos para o lado direito da casa, e no fim do caminho para ainda davam a porta da entrada da casa do Sr. Fernando “pastor” (contígua à nossa casa)e uma grande porta de um armazém do Sr. António Miguel (que penso teriam integrado o conjunto da grande casa de que a nossa teria feito parte) começava um estreito caminho, sobranceiro à vinha do Sr. João Novo sob o pinhal para onde íamos. Deste caminho “trepávamos” para um terreno de restolho (de trigo, com certeza, já ceifado nessa altura) por onde acedíamos ao pinhal. Sobre aquele terreno pendiam a maior parte dos ramos de um grande pinheiro, cheios de pinhas. A Linda, sempre cheia de força e energia (e pontaria), atirava, de um plano mais elevado desse terreno, pedras às pinhas que, depois, apanhávamos do chão, cheias de pinhões, ao mesmo tempo que apanhávamos os pinhões que caíam com o embate das pedras nas pinhas ou destas no chão. Depois estávamos por ali, não me recordo a fazer o quê para além das costuras…
Quando eu já era mais crescidinha (a partir dos 11, 12 anos) e a conseguir dar uns toques, passávamos grande parte do tempo a jogar voley numa eira, julgo que do Sr. Domingos, que ficava num terreno entre o pinhal e o eucaliptal, jogarmos voley.
E a estes toques de voley está associado um episódio que eu e a Linda recordamos entre irreprimíveis gargalhadas. A eira ficava sobranceira ao caminhito que atrás referi, e o desnível entre estes era preenchido por um matagal de silvas.
Uma vez, a preciosa bola caiu para as silvas e a Linda debruçou-se para a apanhar, mas com tal infelicidade que caiu para o meio das silvas! Quando conseguiu desenvencilhar-se e subir até junto da eira, tinha todo o corpo (mas todo, desde a cara aos braços, pernas, pés) arranhado e a sangrar. Hoje rimo-nos as duas, mas naquele dia só eu ria sem conseguir parar, porque ela, coitada, estava bem dorida!
Mas era tão bom ir para o pinhal! Seguíamos para o lado direito da casa, e no fim do caminho para ainda davam a porta da entrada da casa do Sr. Fernando “pastor” (contígua à nossa casa)e uma grande porta de um armazém do Sr. António Miguel (que penso teriam integrado o conjunto da grande casa de que a nossa teria feito parte) começava um estreito caminho, sobranceiro à vinha do Sr. João Novo sob o pinhal para onde íamos. Deste caminho “trepávamos” para um terreno de restolho (de trigo, com certeza, já ceifado nessa altura) por onde acedíamos ao pinhal. Sobre aquele terreno pendiam a maior parte dos ramos de um grande pinheiro, cheios de pinhas. A Linda, sempre cheia de força e energia (e pontaria), atirava, de um plano mais elevado desse terreno, pedras às pinhas que, depois, apanhávamos do chão, cheias de pinhões, ao mesmo tempo que apanhávamos os pinhões que caíam com o embate das pedras nas pinhas ou destas no chão. Depois estávamos por ali, não me recordo a fazer o quê para além das costuras…
Quando eu já era mais crescidinha (a partir dos 11, 12 anos) e a conseguir dar uns toques, passávamos grande parte do tempo a jogar voley numa eira, julgo que do Sr. Domingos, que ficava num terreno entre o pinhal e o eucaliptal, jogarmos voley.
E a estes toques de voley está associado um episódio que eu e a Linda recordamos entre irreprimíveis gargalhadas. A eira ficava sobranceira ao caminhito que atrás referi, e o desnível entre estes era preenchido por um matagal de silvas.
Uma vez, a preciosa bola caiu para as silvas e a Linda debruçou-se para a apanhar, mas com tal infelicidade que caiu para o meio das silvas! Quando conseguiu desenvencilhar-se e subir até junto da eira, tinha todo o corpo (mas todo, desde a cara aos braços, pernas, pés) arranhado e a sangrar. Hoje rimo-nos as duas, mas naquele dia só eu ria sem conseguir parar, porque ela, coitada, estava bem dorida!
Memórias 12
Pois, o Sr. Joaquim era o homem do talho. Não morava exactamente onde a Cristina referiu (aí morava o seu pai, o Sr. Domingos), mas sim numa quinta do outro lado da linha do comboio. Mas isso é irrelevante.
O talho ficava na estrada que vai da estrada da Sapataria para a estação dos caminhos de ferro passando pelo “Largo da Sapataria”.
À entrada descíamos dois ou três degraus. Em frente ficava o balcão, de madeira, com uma balança de pratos, parece-me, e atrás do qual estavam penduradas as peças de carne. Ao longo das paredes laterais estavam dois bancos corridos, onde se esperava intermináveis horas!
Este estabelecimento abria apenas ao sábado pelo que, à lentidão do Sr. Joaquim, juntava-se o grande número de clientes (todas mulheres) a”aviar”.
Quando os meus pais alugaram a casa dos Galegos a ida ao talho passou a ser tarefa da minha responsabilidade. O Sr. Joaquim já sabia qual era a encomenda, que eu depois transportava, nuns sacos de pano. (Nessa altura, felizmente, não havia sacos de plástico).
E se essa ida ao talho constituía um grande sacrifício para mim (para as mulheres da aldeia era um local de convívio e uma pausa nas suas lides em casa e no campo), pelo exagerado tempo que ali tinha que esperar pela minha vez (nunca menos de 2 horas), os deliciosos bifes do acém redondo que depois a minha mãe cozinhava para o almoço daquele dia, com umas óptimas batatas cozidas, era o manjar delicioso que me vinha compensar. Nunca, mas nunca, comi carne melhor que aquela (só havia carne de vaca, porque porco tinham todas as pessoas da terra).
Recordo ainda, a propósito, um “grande problema” que tive em consequência de uma dessas idas ao talho. A Maria Otília, filha da Menina Maria, mais velha que eu uns 5 anos, emprestou-me um livrinho (seria mais uma brochurazinha) que eu levei para o talho para ler nesse período de espera. Qual não foi a minha aflição quando, no regresso a casa, verifiquei que, ao pô-lo no saco em que transportava o saco da carne, o sangue desta sujara o livro! Não sei quanto tempo andei a ganhar coragem para o restituir mas sei que foi muito, e enquanto o não o fiz, sei que foi um problema que me angustiava a todo o momento!
A carne, para além de ser óptima era mais barata que em Lisboa, pelo que durante muitos anos, o Sr. Joaquim, quando não estávamos de férias na Sapataria, enviava para Lisboa (pela camioneta), a encomenda do costume (bifes do acém e um pedaço de acém comprido, que a minha mãe utilizava para guisar e para o delicioso cozido que ela fazia aos domingos, normalmente de 15 em 15 dias, entremeado com o bacalhau cozido).
O talho ficava na estrada que vai da estrada da Sapataria para a estação dos caminhos de ferro passando pelo “Largo da Sapataria”.
À entrada descíamos dois ou três degraus. Em frente ficava o balcão, de madeira, com uma balança de pratos, parece-me, e atrás do qual estavam penduradas as peças de carne. Ao longo das paredes laterais estavam dois bancos corridos, onde se esperava intermináveis horas!
Este estabelecimento abria apenas ao sábado pelo que, à lentidão do Sr. Joaquim, juntava-se o grande número de clientes (todas mulheres) a”aviar”.
Quando os meus pais alugaram a casa dos Galegos a ida ao talho passou a ser tarefa da minha responsabilidade. O Sr. Joaquim já sabia qual era a encomenda, que eu depois transportava, nuns sacos de pano. (Nessa altura, felizmente, não havia sacos de plástico).
E se essa ida ao talho constituía um grande sacrifício para mim (para as mulheres da aldeia era um local de convívio e uma pausa nas suas lides em casa e no campo), pelo exagerado tempo que ali tinha que esperar pela minha vez (nunca menos de 2 horas), os deliciosos bifes do acém redondo que depois a minha mãe cozinhava para o almoço daquele dia, com umas óptimas batatas cozidas, era o manjar delicioso que me vinha compensar. Nunca, mas nunca, comi carne melhor que aquela (só havia carne de vaca, porque porco tinham todas as pessoas da terra).
Recordo ainda, a propósito, um “grande problema” que tive em consequência de uma dessas idas ao talho. A Maria Otília, filha da Menina Maria, mais velha que eu uns 5 anos, emprestou-me um livrinho (seria mais uma brochurazinha) que eu levei para o talho para ler nesse período de espera. Qual não foi a minha aflição quando, no regresso a casa, verifiquei que, ao pô-lo no saco em que transportava o saco da carne, o sangue desta sujara o livro! Não sei quanto tempo andei a ganhar coragem para o restituir mas sei que foi muito, e enquanto o não o fiz, sei que foi um problema que me angustiava a todo o momento!
A carne, para além de ser óptima era mais barata que em Lisboa, pelo que durante muitos anos, o Sr. Joaquim, quando não estávamos de férias na Sapataria, enviava para Lisboa (pela camioneta), a encomenda do costume (bifes do acém e um pedaço de acém comprido, que a minha mãe utilizava para guisar e para o delicioso cozido que ela fazia aos domingos, normalmente de 15 em 15 dias, entremeado com o bacalhau cozido).
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Adendas ..memórias 9
No largo do Galegos...estou a ver o sr.José Novo, para mim o venerável e respeitado ancião..era realmente a pessoa mais idosa do lugar..lembro-me dele sempre sentado num banco feito de laje ao lado da porta de sua casa…com um grande barrete preto típico da zona saloia…A filha Aurélia que vivia em frente tinha 3 filhos:o Diamantino , o Amândio e mais tarde veio a Urbalina!
Em frente da nossa modesta sim, mas também linda para mim linda de morrer, vivia outro casal …ele sr João e ela menina Maria de quem eu gostava muito por ser uma pessoa muito alegre e viva!
Do outro lado do caminho , junto ao poço com a bomba onde íamos buscar a água ,e dos tanques onde ajudava a minha avó a lavar a roupa(uns lencinhos que a avó me entregava ) e onde eu tomava banho,e os tanque para os animais beberem , dizia eu que nesse local morava o sr, Joaquim…ou Jacinto não estou certa…que era o senhor do talho.
A casa dos galegos dos avós foi e sempre será , para mim , a casa mais linda ….
Passados quarenta e muitos anos consegui adquirir uma substituição dessa casa que me deixou tão ternas recoradções…pois a escolha da dita casa de campo foi totalmente influenciada pelo modelo dos Galegos…E sem sequer ter consciencia disso acabei por aqui e ali decorar à semelhança tanto quanto possível da casinha da minha infância!..uma das coisas de que senti imensa pena foi não ter portas com aqueles fechos de ferro que se garregava com o dedo numa esécie de patilha!Em compensação enchi a prateleira da minha lareira com vários modelos de candeeiros a petróleo..que era outro dos meus fascínios..Quando chegava a hora da avó mandar as tias acender os candeeiros…aquele ritual…aquele cheiro…e que desgosto tive quando o Avô mandou instalar a electricidade…
Na cozinha da Avó também havia os tais “naperons”recortados em papel mas colocados nos terminais das prateleiras e chaminé a fazer de folho...gostava muito da altura em que a Avó achava que tinham de ser substituídos e as tias os faziam…
No quintal o Avô colocou alguma árvores de fruto. ..muito raquíticas mas lembro-me muito bem de uma pequena pereira que davam umas enormes peras francesa…a primeira da qual a Avó todos os anos guardava religiosamente em cima do tal armário do naperon e jarro verdes, que tinha ao fundo da casa de jantar, para oferecer ao meu pai que fazia anos a 5 de Agosto!
E lá em cima …quando íamos a subir as escadas já vinha um perfume inesquecível das tais maçãs reinetas e de outras raiadas a vermelho !
Por fim chego aos tais banquinhos de pedra junto às janelas de guilhotina dos quartos ..para mim local previlegiado de toda a casa..local em que espraiava a vista por todo aquele infinito que me levava até aos montes que separavam a Sapataria da Várzea..local em que via ao fim do dia , o sr.Fernando passar com o seu rebanho de volta a casa…local onde ficava muito juntinho às andorinhas que volteavam nos seus voos do entardecer e vinham alimentar as suas crias nos ninhos mesmo por cima da minha cabeça…nos anos em que os avós se esqueciam de caiar a casa …Aqueles banquinhos junto àquelas janelas de guilhotina foi o local que mais me marcou em toda a minha vida!
No largo do Galegos...estou a ver o sr.José Novo, para mim o venerável e respeitado ancião..era realmente a pessoa mais idosa do lugar..lembro-me dele sempre sentado num banco feito de laje ao lado da porta de sua casa…com um grande barrete preto típico da zona saloia…A filha Aurélia que vivia em frente tinha 3 filhos:o Diamantino , o Amândio e mais tarde veio a Urbalina!
Em frente da nossa modesta sim, mas também linda para mim linda de morrer, vivia outro casal …ele sr João e ela menina Maria de quem eu gostava muito por ser uma pessoa muito alegre e viva!
Do outro lado do caminho , junto ao poço com a bomba onde íamos buscar a água ,e dos tanques onde ajudava a minha avó a lavar a roupa(uns lencinhos que a avó me entregava ) e onde eu tomava banho,e os tanque para os animais beberem , dizia eu que nesse local morava o sr, Joaquim…ou Jacinto não estou certa…que era o senhor do talho.
A casa dos galegos dos avós foi e sempre será , para mim , a casa mais linda ….
Passados quarenta e muitos anos consegui adquirir uma substituição dessa casa que me deixou tão ternas recoradções…pois a escolha da dita casa de campo foi totalmente influenciada pelo modelo dos Galegos…E sem sequer ter consciencia disso acabei por aqui e ali decorar à semelhança tanto quanto possível da casinha da minha infância!..uma das coisas de que senti imensa pena foi não ter portas com aqueles fechos de ferro que se garregava com o dedo numa esécie de patilha!Em compensação enchi a prateleira da minha lareira com vários modelos de candeeiros a petróleo..que era outro dos meus fascínios..Quando chegava a hora da avó mandar as tias acender os candeeiros…aquele ritual…aquele cheiro…e que desgosto tive quando o Avô mandou instalar a electricidade…
Na cozinha da Avó também havia os tais “naperons”recortados em papel mas colocados nos terminais das prateleiras e chaminé a fazer de folho...gostava muito da altura em que a Avó achava que tinham de ser substituídos e as tias os faziam…
No quintal o Avô colocou alguma árvores de fruto. ..muito raquíticas mas lembro-me muito bem de uma pequena pereira que davam umas enormes peras francesa…a primeira da qual a Avó todos os anos guardava religiosamente em cima do tal armário do naperon e jarro verdes, que tinha ao fundo da casa de jantar, para oferecer ao meu pai que fazia anos a 5 de Agosto!
E lá em cima …quando íamos a subir as escadas já vinha um perfume inesquecível das tais maçãs reinetas e de outras raiadas a vermelho !
Por fim chego aos tais banquinhos de pedra junto às janelas de guilhotina dos quartos ..para mim local previlegiado de toda a casa..local em que espraiava a vista por todo aquele infinito que me levava até aos montes que separavam a Sapataria da Várzea..local em que via ao fim do dia , o sr.Fernando passar com o seu rebanho de volta a casa…local onde ficava muito juntinho às andorinhas que volteavam nos seus voos do entardecer e vinham alimentar as suas crias nos ninhos mesmo por cima da minha cabeça…nos anos em que os avós se esqueciam de caiar a casa …Aqueles banquinhos junto àquelas janelas de guilhotina foi o local que mais me marcou em toda a minha vida!
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Memórias 11
Como na Várzea, eu comecei por passar grande parte do tempo em casa de vizinhas (“passar, passava, mas não era a mesma coisa!” -como diz o anúncio-, do que era na Várzea, de onde nunca deixei de ter saudades).
Ia muito para casa da Menina Maria, mulher do Sr. João Novo, cuja casa ficava mesmo em frente da nossa casa, e para “cazeta”, assim se chamava a casa da funcionária da CP, a Sra. Emília, que não era daquela zona. Penso que era da Beira Alta. Dela ouvi algumas histórias sobre as dificuldades que tinha passado. Nunca me esqueci de ela contar ter muitas vezes chorado por não ter um bocado de pão, que fosse, para dar os seus filhos.
Essa era uma realidade completamente desconhecida para mim. Embora os meus pais tivessem, na altura, dificuldades económicas, nunca nos faltou na nossa alimentação do que melhor havia, e as pessoas da Sapataria, embora não tivessem o mesmo tipo de alimentação, não tinham aquele tipo de problemas. Era uma economia de subsistência, mas uma subsistência sem carências.
Depois da Sra. Emília se reformar, foi substituída por outra senhora, a senhora Adelina, e embora esta não fosse uma pessoa de quem gostasse muito, para ali continuei a caminhar. E tenho grande nostalgia das flores dos canteiros da “cazeta”: rapazinhos, como lá se chamavam, e que já consegui ter na Ribeirinha, e uma espécie de malmequeres muito pouco vistos, e que também gostava muito de ter. E está também bem presente na minha memória a entoação que elas davam quando pronunciavam o “45,1”, quando atendiam o telefone que avisava da passagem do comboio ( 45,1 Km de em relação a Lisboa. Na estação dos Caminhos de Ferro era o 45,8).
Era no tanque do poço da “cazeta” que eu, embora o meu pai tivesse montado, a certa altura, uma espécie de chuveiro na nossa casa de banho, que eu tomava ricas banhocas, nessa altura, lembro-me, já em fato de banho.
Também no terreno sobranceiro ao poço, apanhava, nos grandes silvados que o bordejavam, do lado que dava para a linha do comboio, apanhava, e a partir de certa altura das férias, Julho ou Agosto, grandes e doces amoras.
Uma noite já casada e a viver aqui no Dafundo, ouvi o apito de um comboio (é raro, mas acontece). Senti, então, uma súbita e inexplicável sensação de bem-estar. Fiquei perplexa, mas de imediato percebi que aquela sensação estava ligada aos comboios dos Galegos. Engraçado que, mais tarde, quando li o”Em busca do tempo perdido” do Proust, encontrei a descrição desta mesma situação, não sei se a propósito do odor ou do paladar, ao comer uma madalena.
Ia muito para casa da Menina Maria, mulher do Sr. João Novo, cuja casa ficava mesmo em frente da nossa casa, e para “cazeta”, assim se chamava a casa da funcionária da CP, a Sra. Emília, que não era daquela zona. Penso que era da Beira Alta. Dela ouvi algumas histórias sobre as dificuldades que tinha passado. Nunca me esqueci de ela contar ter muitas vezes chorado por não ter um bocado de pão, que fosse, para dar os seus filhos.
Essa era uma realidade completamente desconhecida para mim. Embora os meus pais tivessem, na altura, dificuldades económicas, nunca nos faltou na nossa alimentação do que melhor havia, e as pessoas da Sapataria, embora não tivessem o mesmo tipo de alimentação, não tinham aquele tipo de problemas. Era uma economia de subsistência, mas uma subsistência sem carências.
Depois da Sra. Emília se reformar, foi substituída por outra senhora, a senhora Adelina, e embora esta não fosse uma pessoa de quem gostasse muito, para ali continuei a caminhar. E tenho grande nostalgia das flores dos canteiros da “cazeta”: rapazinhos, como lá se chamavam, e que já consegui ter na Ribeirinha, e uma espécie de malmequeres muito pouco vistos, e que também gostava muito de ter. E está também bem presente na minha memória a entoação que elas davam quando pronunciavam o “45,1”, quando atendiam o telefone que avisava da passagem do comboio ( 45,1 Km de em relação a Lisboa. Na estação dos Caminhos de Ferro era o 45,8).
Era no tanque do poço da “cazeta” que eu, embora o meu pai tivesse montado, a certa altura, uma espécie de chuveiro na nossa casa de banho, que eu tomava ricas banhocas, nessa altura, lembro-me, já em fato de banho.
Também no terreno sobranceiro ao poço, apanhava, nos grandes silvados que o bordejavam, do lado que dava para a linha do comboio, apanhava, e a partir de certa altura das férias, Julho ou Agosto, grandes e doces amoras.
Uma noite já casada e a viver aqui no Dafundo, ouvi o apito de um comboio (é raro, mas acontece). Senti, então, uma súbita e inexplicável sensação de bem-estar. Fiquei perplexa, mas de imediato percebi que aquela sensação estava ligada aos comboios dos Galegos. Engraçado que, mais tarde, quando li o”Em busca do tempo perdido” do Proust, encontrei a descrição desta mesma situação, não sei se a propósito do odor ou do paladar, ao comer uma madalena.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Reencontros em Fuga
Foi com grande prazer que reencontrei a minha infância nas descrições da tia Aida. Custa e soa a falso este "tia" , uma vez que nos separam poucos ,mesmo muito poucos anos.Éramos mais umas irmãs que outra coisa!Linda e Aida eram as minhas manas mais velhas e pronto!Cresci junto delas e muitas daquelas vivências , principalmente as da Sapataria , partilhei-as, para minha grande alegria e felicidade pois foram tempos muito marcantes pela positiva!
Mas hoje estou aqui só para acrescentar um pequeno episódio passado na casa da tal D. Bernardina ...teria eu uns 4 ou 5 anos e lembro de numa visita à Várzea, entrar naquela divisão já falada onde se fazia o fogo para as refeições onde estava a mesa para se comer, onde se recebia quem vinha...e também por onde passavam os animais para o curral...e eu ao ver as "caganitas " de alguma ovelha que por ali passara pensei ser azeitonas e preparava-me para a panhá-las provocando em todos os adultos uma grande paródia pela minha inoçência e..ignorãncia , claro está!!!!menina de cidade faz destas figuras nestes ambientes rurais!
Mas hoje estou aqui só para acrescentar um pequeno episódio passado na casa da tal D. Bernardina ...teria eu uns 4 ou 5 anos e lembro de numa visita à Várzea, entrar naquela divisão já falada onde se fazia o fogo para as refeições onde estava a mesa para se comer, onde se recebia quem vinha...e também por onde passavam os animais para o curral...e eu ao ver as "caganitas " de alguma ovelha que por ali passara pensei ser azeitonas e preparava-me para a panhá-las provocando em todos os adultos uma grande paródia pela minha inoçência e..ignorãncia , claro está!!!!menina de cidade faz destas figuras nestes ambientes rurais!
Memórias 10
Guardo, também, muito boas recordações das férias que vivi nos Galegos dos 9 aos 17 anos. A partir dos meus 18 anos aquelas tornaram-se mais curtas pois empreguei-me com essa idade, e aos 22 anos mudámos de casa de férias para o Largo da Sapataria. Depois de uma pequena casa, passámos a para uma casa antiga mas bonita, que dpois do falecimento do nosso pai mantivemos alugada em meu nome e dos meus dois irmãos mais velhos,eque que mantivemos ainda durante alguns anos, aproximadamente até fazermos a a nossa casa em Monte Arroio.
Entre as várias recordações estão as sopas de leite, feitas numas grandes tigelas, que a nossa mãe nos ia levar à cama, já com a manhã adiantada.
No meu caso, as sopas eram de café (de cevada) com leite, porque não gostava de leite e muito menos do leite gordíssimo da vaca (velha e magra) pertencente à Menina Jacinta, dona de uma quinta que ficava a meio caminho entre a Sapataria e os Galegos, onde o íamos comprar.
Eu não gostava do leite, mas adorava comer as natas com açucar. Para mim era um manjar delicioso, e também suculento, pois, após a sua fervura, o leite apresentava uma espessa capa de nata, que eu retirava para fazer o "pitéu".
A partir do princípio de Setembro, este pequeno-almoço era precedido de deliciosos figos que eu e a Linda íamos colher a uma figueira alugada pelo nosso pai para o efeito. Recordo que a minha irmã Maria Cecília também ia connosco, quando lá estava a passar alguns dias de férias.Segundo me recorda a minha sobrinha Cristina, também os meus sobrinhos nos acompanhavam. Mas em cima da figueira só me lembro de nós as três. Nunca me esqueci do susto que apanhei quando a a minha irmã mais velha partiu um tronco em que se encontrava empoleirada e caiu, mas, felizmente,não se magoou.
E nós comíamos tanta fruta! Todos os dias, à tarde, íamos à Quinta da Menina Jacinta com um grande fervedouro para trazer o leite, e vínhamos também sempre com um cesto, de trazer no braço, como lá se usava, carregado de fruta. Recordo o inexcedível paladar das peras carapinheiras, pérola e, mais para o meio do Verão, francesa. A partir do início de Setembro a minha mãe comprava-lhe também uvas.
Era também a Menina Jacinta que fornecia todos os produtos hortícolas, e recordo como gostava de a acompanhar até à horta, quando ela os ia colher para nós.
Mas nesse mês havia também as deliciosas maçãs reinetas, cujo paladar nunca mais encontrei igual, e que eram nessa altura o meu fruto preferido. A nossa mãe costumava comprar um ou dois cestos grandes, das vindimas, cheios daquelas maçãs, ao Sr. António Miguel, que também morava nos Galegos, mesmo no caminho que lhe dava acesso, e que seria o segundo homem mais rico da Sapataria (seria tão rico como era gordo e mulherengo), e que nos desagradava profundamente. Durante muitos anos não gostei deste nome, porque o associava àquela personagem.
Recordo um episódio relacionado com esta família, aonde também passámos, a partir de certa altura, a comprar leite. No quintal, ao lado da casa e ao longo da mesma, havia um arame onde se encontrava preso, com uma corrente que deslizava ao longo daquele, um grande e inamistoso cão. Um dia o Alfredo, ainda rapazinho, quando, julgo, ia comprar o leite, entrou no portão que ficava do lado do cão e foi mordido por este. Mas o acidente veio a valer-lhe a admiração da família, porque ele desenvencilhou-se sozinho, conseguindo fugir apenas com uma dentada (muito grande) após ter apertado com as suas próprias mãos a boca do cão!
Entre as várias recordações estão as sopas de leite, feitas numas grandes tigelas, que a nossa mãe nos ia levar à cama, já com a manhã adiantada.
No meu caso, as sopas eram de café (de cevada) com leite, porque não gostava de leite e muito menos do leite gordíssimo da vaca (velha e magra) pertencente à Menina Jacinta, dona de uma quinta que ficava a meio caminho entre a Sapataria e os Galegos, onde o íamos comprar.
Eu não gostava do leite, mas adorava comer as natas com açucar. Para mim era um manjar delicioso, e também suculento, pois, após a sua fervura, o leite apresentava uma espessa capa de nata, que eu retirava para fazer o "pitéu".
A partir do princípio de Setembro, este pequeno-almoço era precedido de deliciosos figos que eu e a Linda íamos colher a uma figueira alugada pelo nosso pai para o efeito. Recordo que a minha irmã Maria Cecília também ia connosco, quando lá estava a passar alguns dias de férias.Segundo me recorda a minha sobrinha Cristina, também os meus sobrinhos nos acompanhavam. Mas em cima da figueira só me lembro de nós as três. Nunca me esqueci do susto que apanhei quando a a minha irmã mais velha partiu um tronco em que se encontrava empoleirada e caiu, mas, felizmente,não se magoou.
E nós comíamos tanta fruta! Todos os dias, à tarde, íamos à Quinta da Menina Jacinta com um grande fervedouro para trazer o leite, e vínhamos também sempre com um cesto, de trazer no braço, como lá se usava, carregado de fruta. Recordo o inexcedível paladar das peras carapinheiras, pérola e, mais para o meio do Verão, francesa. A partir do início de Setembro a minha mãe comprava-lhe também uvas.
Era também a Menina Jacinta que fornecia todos os produtos hortícolas, e recordo como gostava de a acompanhar até à horta, quando ela os ia colher para nós.
Mas nesse mês havia também as deliciosas maçãs reinetas, cujo paladar nunca mais encontrei igual, e que eram nessa altura o meu fruto preferido. A nossa mãe costumava comprar um ou dois cestos grandes, das vindimas, cheios daquelas maçãs, ao Sr. António Miguel, que também morava nos Galegos, mesmo no caminho que lhe dava acesso, e que seria o segundo homem mais rico da Sapataria (seria tão rico como era gordo e mulherengo), e que nos desagradava profundamente. Durante muitos anos não gostei deste nome, porque o associava àquela personagem.
Recordo um episódio relacionado com esta família, aonde também passámos, a partir de certa altura, a comprar leite. No quintal, ao lado da casa e ao longo da mesma, havia um arame onde se encontrava preso, com uma corrente que deslizava ao longo daquele, um grande e inamistoso cão. Um dia o Alfredo, ainda rapazinho, quando, julgo, ia comprar o leite, entrou no portão que ficava do lado do cão e foi mordido por este. Mas o acidente veio a valer-lhe a admiração da família, porque ele desenvencilhou-se sozinho, conseguindo fugir apenas com uma dentada (muito grande) após ter apertado com as suas próprias mãos a boca do cão!
Memórias 9
O Lugar dos Galegos, que ficava do lado oposto à Várzea e do outro lado da estrada da Sapataria, a cerca de 20 minuto da sede da freguesia. Àquele Lugar acedia-se por um caminho ligeiramente ascendente que, ao contrário do caminho da Várzea (de pedra, umas vezes grandes lajes, mais pequenas e, por vezes soltas, outras), era de terra, poeirenta.
A nossa casa ficava do lado esquerdo do cminho, num pequeno largo à volta do qual se encontravam várias outras casas. De um lado da entrada deste largo ficava a casa de uns velhotes (o Sr. José Novo e mulher) e do outro a da Menina Aurélia (filha deste), casada com o Sr. Manuel.
Ligadas à casa do Sr. José ficavam umas casas térreas, a que se seguia a nossa, de dois pisos. A esta acedia-se por uns degraus, poucos, ao cimo dos quais se encontrava uma pequena varanda onde se situava a porta de entrada da casa. Por esta porta acedia-se à casa de jantar, com uma mobília modesta (mesa, cadeiras, armário alto, e ao fundo, numa reentrância quadrada, um pequeno armário no tampo do qual, sobre um naperon também verde e que ainda guardo na casa da Ribeirinha –Águas-, onde ainda vejo com toda a clareza uma jarra de vidro castanho claro transparente), toda pintada de verde.
Na parede do lado esquerdo de quem entrava, estava colocado um cabide para os casacos, também em madeira pintada de verde. Ao longo da parede lateral esquerda, se a memória não me engana, estava ainda um divã.
Logo no início da parede do lado direito ficava a porta de acesso à cozinha. Nesta situava-se a chaminé (ao fundo), com os fogareiros de petróleo onde a minha mãe cozinhava. Na parede contígua e perpendicular à mesma, e sob a escada que subia para o 1º andar, encontrava-se um balcão de cimento, de onde pendia uma cortina de chita vermelha, sobre o qual se encontravam os alguidares para lavar a loiça bem como os recipientes para a água que se ia buscar “à bomba” (poço, de onde se tirava a água com uma bomba). Este situava-se no caminho que descia do lado de baixo do caminho principal (que, passando pelos Galegos, ligava a Sapataria à Guia - outro Lugar sobranceiro aos Galegos -, ao nível do qual se encontrava um monte com dois moinhos, que ainda hoje se avistam quando passamos na A8).
Ao lado da chaminé, encontrava-se um armário, que na parte superior tinha um mosqueiro, onde a minha mãe guardava a carne, o peixe, a manteiga, etc.
Encostada à outra parede estava a mesa da cozinha onde se guardava a loiça na parte de baixo e, na gaveta que o mesmo tinha por cima, os talheres, e onde a minha mãe preparava as refeições.
Do fundo da cozinha saia-se para uma pequena divisão pela qual se acedia à casa de banho e ao quintal.
Pela escada atrás referida acedia-se aos quartos. Aliás era um único quarto do que aparentava ter sido uma parte de uma casa de lavradores ricos antiga, e que integraria a casa contígua. Este grande quarto estava dividido em quatro por tabique de madeira. Pelo primeiro, onde terminava a escada acedia-se ao terraço que o meu pai mandou fazer, que dava para as traseiras da casa. Neste havia do lado esquerdo, um banco de cimento que o acompanhava até ao seu limite e, do outro, o reservatório de água para uso na casa de banho, que ficava por baixo.
Deste terraço, onde apanhávamos” ricos” banhos de sol, avistava-se o eucaliptal sobranceiro à casa, ultrapassado um terreno de cultivo contíguo à parte superior do quinta.
Os dois quartos que davam para a frente da casa tinham, cada um deles, dois bancos de pedra a ladear a janela de onde se avistavam campos que se espraiavam até à Sapataria, “o mato da Sapataria” à direita dos mesmos, a Moita (Lugar por onde passávamos na subida para a Várzea) e os montes em frente - entre os quais se situava a Várzea -, que não se vislumbrava.
Aqueles bancos davam um enorme encanto aos quartos, um dos quais era o nosso (meu e da minha irmã).
A nossa casa ficava do lado esquerdo do cminho, num pequeno largo à volta do qual se encontravam várias outras casas. De um lado da entrada deste largo ficava a casa de uns velhotes (o Sr. José Novo e mulher) e do outro a da Menina Aurélia (filha deste), casada com o Sr. Manuel.
Ligadas à casa do Sr. José ficavam umas casas térreas, a que se seguia a nossa, de dois pisos. A esta acedia-se por uns degraus, poucos, ao cimo dos quais se encontrava uma pequena varanda onde se situava a porta de entrada da casa. Por esta porta acedia-se à casa de jantar, com uma mobília modesta (mesa, cadeiras, armário alto, e ao fundo, numa reentrância quadrada, um pequeno armário no tampo do qual, sobre um naperon também verde e que ainda guardo na casa da Ribeirinha –Águas-, onde ainda vejo com toda a clareza uma jarra de vidro castanho claro transparente), toda pintada de verde.
Na parede do lado esquerdo de quem entrava, estava colocado um cabide para os casacos, também em madeira pintada de verde. Ao longo da parede lateral esquerda, se a memória não me engana, estava ainda um divã.
Logo no início da parede do lado direito ficava a porta de acesso à cozinha. Nesta situava-se a chaminé (ao fundo), com os fogareiros de petróleo onde a minha mãe cozinhava. Na parede contígua e perpendicular à mesma, e sob a escada que subia para o 1º andar, encontrava-se um balcão de cimento, de onde pendia uma cortina de chita vermelha, sobre o qual se encontravam os alguidares para lavar a loiça bem como os recipientes para a água que se ia buscar “à bomba” (poço, de onde se tirava a água com uma bomba). Este situava-se no caminho que descia do lado de baixo do caminho principal (que, passando pelos Galegos, ligava a Sapataria à Guia - outro Lugar sobranceiro aos Galegos -, ao nível do qual se encontrava um monte com dois moinhos, que ainda hoje se avistam quando passamos na A8).
Ao lado da chaminé, encontrava-se um armário, que na parte superior tinha um mosqueiro, onde a minha mãe guardava a carne, o peixe, a manteiga, etc.
Encostada à outra parede estava a mesa da cozinha onde se guardava a loiça na parte de baixo e, na gaveta que o mesmo tinha por cima, os talheres, e onde a minha mãe preparava as refeições.
Do fundo da cozinha saia-se para uma pequena divisão pela qual se acedia à casa de banho e ao quintal.
Pela escada atrás referida acedia-se aos quartos. Aliás era um único quarto do que aparentava ter sido uma parte de uma casa de lavradores ricos antiga, e que integraria a casa contígua. Este grande quarto estava dividido em quatro por tabique de madeira. Pelo primeiro, onde terminava a escada acedia-se ao terraço que o meu pai mandou fazer, que dava para as traseiras da casa. Neste havia do lado esquerdo, um banco de cimento que o acompanhava até ao seu limite e, do outro, o reservatório de água para uso na casa de banho, que ficava por baixo.
Deste terraço, onde apanhávamos” ricos” banhos de sol, avistava-se o eucaliptal sobranceiro à casa, ultrapassado um terreno de cultivo contíguo à parte superior do quinta.
Os dois quartos que davam para a frente da casa tinham, cada um deles, dois bancos de pedra a ladear a janela de onde se avistavam campos que se espraiavam até à Sapataria, “o mato da Sapataria” à direita dos mesmos, a Moita (Lugar por onde passávamos na subida para a Várzea) e os montes em frente - entre os quais se situava a Várzea -, que não se vislumbrava.
Aqueles bancos davam um enorme encanto aos quartos, um dos quais era o nosso (meu e da minha irmã).
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Memórias 7
Já iamos de férias para os Galegos, eu e a minha irmã Linda fomos passar uns dias das férias de Páscoa na Várzea, em casa da Sra. Maria. Dormiamos numa cama de casal no quarto que ficava ao cimo das escadas que subiam da sala que ficava ao lado da cozinha. Dessa sala lembro-me muito bem do relógio de pêndulo, que eu adorava,e dos papeis de cor recortados que eram usados como naperons e para enfeitar as paredes, segundo as minhas recordações, não sei se exactas.
Foram uns dias maravilhosos. Passeavamos pelos campos, colhíamos flores, que abundavam nos campos, pois era Primavera. Foi a descoberta de um aspecto diferente daqueles campos, que só conhecíamos de Verão.
Mas a recordação mais forte está ligada às deliciosas batatas fritas que a Sra. Maria nos fazia para acompamhar os ovos estrelados. Nunca tinha comido, nem voltei a comer, batatas fritas tão deliciosas. Para isso deviam-se conjugar vários factores, calculo eu, como o recipiente, o ser feito ao lume de brasas e, principalmente, ao azeite que devia ter um grau de acidez elevado. Aliás ainda hoje eu não aprecio o azeite bom , sem acidez. Para mim bom azeite é o azeite com acidez como, julgo eu, era o da Várzea
Foram uns dias maravilhosos. Passeavamos pelos campos, colhíamos flores, que abundavam nos campos, pois era Primavera. Foi a descoberta de um aspecto diferente daqueles campos, que só conhecíamos de Verão.
Mas a recordação mais forte está ligada às deliciosas batatas fritas que a Sra. Maria nos fazia para acompamhar os ovos estrelados. Nunca tinha comido, nem voltei a comer, batatas fritas tão deliciosas. Para isso deviam-se conjugar vários factores, calculo eu, como o recipiente, o ser feito ao lume de brasas e, principalmente, ao azeite que devia ter um grau de acidez elevado. Aliás ainda hoje eu não aprecio o azeite bom , sem acidez. Para mim bom azeite é o azeite com acidez como, julgo eu, era o da Várzea
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Memórias 8
Destes sítios e destas pessoas (principalmente), mas também de outras familiares destas mas residentes noutros Lugares, guardo uma saudade enorme. Quase todas já faleceram.
Durante muitos anos visitei aquele Lugar e aqueles que aí ainda residiam, e sempre ali estávamos como fossemos família.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8eidjRjces6k0D6Fh7sMxW3_JumeWNi_-PDQ6fe3V376-yH30UFjlxMkKPgu0yNV9oUi7Oiy6GlPDBxFyYqsl6_ClRiyKhtnxsJOvfvNcvgUIKMAlyP4oekPwGOSKnata7fhkMRT6n6Jj/s400/aida%252C+leonilde%252C+maria+helena.bmp)
Das últimas vezes estivemos com a Menina Hortense (nessa altura só ela, marido e família da filha é que viviam no Casal), que faleceu há pouco tempo e de quem tenho muita saudade, pois tinha uma enorme ternura por ela.
Também pela Sra. Bernardina, falecida há alguns anos (já com 86 anos penso eu, e na casa da filha, na Sapataria), e pela Sra. Maria, esta falecida há muito mais tempo, sinto uma terna saudade.
Da Menina Maria há muito que não tinha notícias. Com certeza que faleceu também.
E o Leonel? Não obstante as suas grandes limitações era muito inteligente, e foi sempre um amigo. Faleceu recentemente, já com 70 anos, tendo sido toda a sua vida muito acarinhado pela família, principalmente pela mãe e pela irmã que passou a prestar-lhe os cuidados que ele precisava quando a mãe deixou de o poder fazer.E nunca transpereceu da parte destas qualquer contrariedade pelo facto, evidenciando sempre o grande amor que lhe tinham.
A Maria Helena, de quem continuo amiga, embora agora contactemos pouco, é que me vai dando algumas notícias. Mas a Sapataria, dado ter acesso à auto-estrada a cerca de 3 Km, sofreu um impacto urbanistico completamente descaracterizante (com enormes edifícios, um deles, penso, com um Centro Comercial), que me desgosta e que me leva a não ter vontade de lá voltar!
Regresso sempre, sim, quando recordo as vivências de férias da minha infância e adolescência associadas àqueles lugares, designadamente com a minha irmã Linda e os meus sobrinhos, embora as recordações destes (com excepção, talvez, do Alfredo) estejam mais ligadas ao Lugar dos Galegos.
Durante muitos anos visitei aquele Lugar e aqueles que aí ainda residiam, e sempre ali estávamos como fossemos família.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8eidjRjces6k0D6Fh7sMxW3_JumeWNi_-PDQ6fe3V376-yH30UFjlxMkKPgu0yNV9oUi7Oiy6GlPDBxFyYqsl6_ClRiyKhtnxsJOvfvNcvgUIKMAlyP4oekPwGOSKnata7fhkMRT6n6Jj/s400/aida%252C+leonilde%252C+maria+helena.bmp)
Das últimas vezes estivemos com a Menina Hortense (nessa altura só ela, marido e família da filha é que viviam no Casal), que faleceu há pouco tempo e de quem tenho muita saudade, pois tinha uma enorme ternura por ela.
Também pela Sra. Bernardina, falecida há alguns anos (já com 86 anos penso eu, e na casa da filha, na Sapataria), e pela Sra. Maria, esta falecida há muito mais tempo, sinto uma terna saudade.
Da Menina Maria há muito que não tinha notícias. Com certeza que faleceu também.
E o Leonel? Não obstante as suas grandes limitações era muito inteligente, e foi sempre um amigo. Faleceu recentemente, já com 70 anos, tendo sido toda a sua vida muito acarinhado pela família, principalmente pela mãe e pela irmã que passou a prestar-lhe os cuidados que ele precisava quando a mãe deixou de o poder fazer.E nunca transpereceu da parte destas qualquer contrariedade pelo facto, evidenciando sempre o grande amor que lhe tinham.
A Maria Helena, de quem continuo amiga, embora agora contactemos pouco, é que me vai dando algumas notícias. Mas a Sapataria, dado ter acesso à auto-estrada a cerca de 3 Km, sofreu um impacto urbanistico completamente descaracterizante (com enormes edifícios, um deles, penso, com um Centro Comercial), que me desgosta e que me leva a não ter vontade de lá voltar!
Regresso sempre, sim, quando recordo as vivências de férias da minha infância e adolescência associadas àqueles lugares, designadamente com a minha irmã Linda e os meus sobrinhos, embora as recordações destes (com excepção, talvez, do Alfredo) estejam mais ligadas ao Lugar dos Galegos.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Memórias 6
Para além das nossas passeatas nos carros de bois ou na carroça do burro, ou nestes mesmos burros, havia os passeios que dávamos até à quinta dos tios Júlio e Irene, irmã do meu pai, que ficava talvez a 3Km entre subidas e descidas pelos montes. Descia-se até à Sapataria, subia-se até ao Casal dos Limões onde, segundo me recorda a minha irmã Linda, descansávamos e aproveitávamos para apanhar e comer pinhões, antes de prosseguirmos a caminhada por um caminho entre pinheiros quase até à proximidade da propriedade.
Descansarmos é força de expressão, pois nós não nos cansávamos, íamos bem instaladas nas burras. A nossa mãe é que fazia todo o percurso a pé porque, dizia ela, não sei se era verdade, tinha medo de andar de burro.
Depois de passarmos uma parte do dia com os nossos tios e primos, regressávamos com os alforges das burras carregados de deliciosos peros...
Deste período não guardo memórias dos nossos 3 sobrinhos, filhos da nossa irmã mais velha, então já nascidos (o Alfredo, apenas dois anos mais novo que eu, a Cristina e o Rodrigo), embora eles também passassem muitos períodos das férias connosco.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivyR5B4ng2-koNcav7jfly76_F1k0nFM8zVyhY09HUNfH4AdV4H1AdYlKn2XEpA5WcUAwMkzUp79GGxqiYsb8jW8Quyo_nNIh_VtblN62BoXH2gz-mzUITTYph_m9Ugtu0FbPZqDcu04Og/s400/aida+2.JPG)
Na foto, os meus pais com a Cristina e o Rodrigo no eucaliptal da Sra. Bernardina
Recordo-me, no entanto de numa das vezes em que íamos à Enxara (terra onde ficava a quinta dos nossos tios), a Russa quando chegou ao início do caminho que descia da Várzea para a Sapataria, resolver rebolar-se no chão (coisa que nela era frequente, porque era muito senhora do seu nariz), e era o meu sobrinho Alfredo que ia montado nela. Penso que não iria sozinho, mas a recordação que tenho é só de ser ele a ir parar ao chão, embora sem se magoar.
Descansarmos é força de expressão, pois nós não nos cansávamos, íamos bem instaladas nas burras. A nossa mãe é que fazia todo o percurso a pé porque, dizia ela, não sei se era verdade, tinha medo de andar de burro.
Depois de passarmos uma parte do dia com os nossos tios e primos, regressávamos com os alforges das burras carregados de deliciosos peros...
Deste período não guardo memórias dos nossos 3 sobrinhos, filhos da nossa irmã mais velha, então já nascidos (o Alfredo, apenas dois anos mais novo que eu, a Cristina e o Rodrigo), embora eles também passassem muitos períodos das férias connosco.
Na foto, os meus pais com a Cristina e o Rodrigo no eucaliptal da Sra. Bernardina
Recordo-me, no entanto de numa das vezes em que íamos à Enxara (terra onde ficava a quinta dos nossos tios), a Russa quando chegou ao início do caminho que descia da Várzea para a Sapataria, resolver rebolar-se no chão (coisa que nela era frequente, porque era muito senhora do seu nariz), e era o meu sobrinho Alfredo que ia montado nela. Penso que não iria sozinho, mas a recordação que tenho é só de ser ele a ir parar ao chão, embora sem se magoar.
Memórias 5
E a liberdade gozada? Eu e a minha irmã só íamos a casa para comer e dormir. Eu entretida com as brincadeiras com a minha amiga, ou a presenciar o que atrás descrevi, a Linda acompanhando o Sr. Luís, que dada a sua pouca saúde apenas apanhava ervas para as burras, a Carriça, castanha e dócil, e a Russa, mais independente. Durante a deslocação até à borda do riacho onde apanhava as ervas, e durante o desempenho desta tarefa, ele contava-lhe as histórias da Grande Guerra, que acabavam por ser sempre as mesmas. Mas nem por isso, parece, a conversa deixava de ter interesse para a minha irmã.
A minha mãe quando nos queria chamar utilizava um apito. Um assobio era para chamar uma de nós, dois para chamar a outra.
E a memória que tenho do que vestia, era para além dos vestidos das fotos ( e talvez a memória corresponda aos meus primeiros anos de idade), é a de uns macaquinhos de tecido de algodão apenas com calções e alças cruzadas. E muitas vezes andava também descalça, e no campo, com tantos picos e pedras, não sei como não me magoava…
Não existindo casa de banho nem banheira, o banho era tomado no tanque da roupa, junto ao poço.
Mas a água desse poço não era boa para beber e eu e a Linda íamos todos os dias buscar água à mina, que ficava a 20, 30 minutos de caminho. Mas era um passeio sempre agradável, não constituía sacrifício nenhum! A não ser um dia em que no caminho estava uma pequena cobra morta. Com o terror que ela tinha a tal bicho foi-lhe difícil continuar o caminho, e lembro-me bem o que me diverti à custa dela, por dar uma volta enorme para não passar ao pé do animal morto!
A minha mãe quando nos queria chamar utilizava um apito. Um assobio era para chamar uma de nós, dois para chamar a outra.
E a memória que tenho do que vestia, era para além dos vestidos das fotos ( e talvez a memória corresponda aos meus primeiros anos de idade), é a de uns macaquinhos de tecido de algodão apenas com calções e alças cruzadas. E muitas vezes andava também descalça, e no campo, com tantos picos e pedras, não sei como não me magoava…
Não existindo casa de banho nem banheira, o banho era tomado no tanque da roupa, junto ao poço.
Mas a água desse poço não era boa para beber e eu e a Linda íamos todos os dias buscar água à mina, que ficava a 20, 30 minutos de caminho. Mas era um passeio sempre agradável, não constituía sacrifício nenhum! A não ser um dia em que no caminho estava uma pequena cobra morta. Com o terror que ela tinha a tal bicho foi-lhe difícil continuar o caminho, e lembro-me bem o que me diverti à custa dela, por dar uma volta enorme para não passar ao pé do animal morto!
Memórias 4
Não consigo hierarquizar, mas se calhar, o que eu mais gostava daqueles verões na Várzea era das atarefas associadas às colheitas. Não propriamente ao ceifar, de que não tenho qualquer memória, mas ao debulhar.
Para este efeito eram preparadas as eiras. Num terreno imediatamente abaixo do eucaliptal que ficava nas traseiras da casa da Sra. Bernardina, era preparada a eira do Sr. João.A eira era um es+aço redondo, feita com palha e água, pisadas pelas ovelhas do Sr. Fernando, que andavam à volta,à volta sobre aquela mistura (segundo me lembrou a minha amiga Mª Helena de molde a fazer aquel terra dura e mais clara do que a que a circundava, e que não se esboroava.
Lembro-me que o feijão e o grão eram debulhados com o mangual, peça de difícil manuseamento (era constituída por 2 paus ligados por uma correia), mas que era utilizada pelos homens com mestria.Mass o que eu recordo com alegre saudade, passe a contradição, era a debulha do trigo.
Esta era feita com um carro constituído por um cilindro cravejado de pregos, sobre o qual assentava um estrado com um banco corrido para se sentar quem dirigia os bois que puxavam aquele instrumento. Às vezes o Sr. João confiava essa tarefa à minha irmã, e eu ia sentada ao seu lado.
Adorava também presenciar o trabalho do criadito do Sr. João, que seguia atentamente os bois para limpar os seus dejectos.
Parece-me que não havia melhor coisa no Verão que aquela debulha. Ou haveria?
Talvez a “escarapelada” (assim ali se denominava a retirada da palha da maçaroca de milho, que se fazia à noite à luz dos petromax e que juntava toda a família alargada), fosse ainda melhor! Pelo menos era(m) uma(s) noite(s) de grande brincadeira e alegria: a Menina Maria tinha sempre graças e histórias para contar entre os seus risos e brilho dos olhos e, o mais divertido, eram os beijinhos e beliscões, determinados pelo tipo de milho da maçaroca, que constituíam sempre motivo de gargalhadas e grande algazarra.
Mas também adorava acompanhar a menina Hortense, todas as tardes, ao estábulo das vacas. Aí, ela mudava a cama dos animais (tirava os dejectos para o monte de estrume que ficava a curtir no pátio e que depois era utilizado como adubo para a terra cultivada (de batatas, cebolas, abóboras e cereais), operação que me dava grande gozo presenciar.
Depois de preparada a nova cama com palha e tojo limpos, a Menina Hortense mungia então as vacas, enquanto estas iam abanando a cauda, que muitas vezes lhe batia no rosto: “está quieta Carocha, chega para lá Estrela…” Estes eram alguns dos nomes que me lembro: Carocha porque a vaca era toda preta, Estrela porque tinha uma estrela branca desenhada na testa.
A maior parte do leite era levado para um posto de recolha na Sapataria, por uma rapariga que passava de burro com os respectivos recipientes. Mas algum ficava para consumo da família e para a feitura da manteiga que a Menina Hortense fazia batendo, manualmente, o leite
Para este efeito eram preparadas as eiras. Num terreno imediatamente abaixo do eucaliptal que ficava nas traseiras da casa da Sra. Bernardina, era preparada a eira do Sr. João.A eira era um es+aço redondo, feita com palha e água, pisadas pelas ovelhas do Sr. Fernando, que andavam à volta,à volta sobre aquela mistura (segundo me lembrou a minha amiga Mª Helena de molde a fazer aquel terra dura e mais clara do que a que a circundava, e que não se esboroava.
Lembro-me que o feijão e o grão eram debulhados com o mangual, peça de difícil manuseamento (era constituída por 2 paus ligados por uma correia), mas que era utilizada pelos homens com mestria.Mass o que eu recordo com alegre saudade, passe a contradição, era a debulha do trigo.
Esta era feita com um carro constituído por um cilindro cravejado de pregos, sobre o qual assentava um estrado com um banco corrido para se sentar quem dirigia os bois que puxavam aquele instrumento. Às vezes o Sr. João confiava essa tarefa à minha irmã, e eu ia sentada ao seu lado.
Adorava também presenciar o trabalho do criadito do Sr. João, que seguia atentamente os bois para limpar os seus dejectos.
Parece-me que não havia melhor coisa no Verão que aquela debulha. Ou haveria?
Talvez a “escarapelada” (assim ali se denominava a retirada da palha da maçaroca de milho, que se fazia à noite à luz dos petromax e que juntava toda a família alargada), fosse ainda melhor! Pelo menos era(m) uma(s) noite(s) de grande brincadeira e alegria: a Menina Maria tinha sempre graças e histórias para contar entre os seus risos e brilho dos olhos e, o mais divertido, eram os beijinhos e beliscões, determinados pelo tipo de milho da maçaroca, que constituíam sempre motivo de gargalhadas e grande algazarra.
Mas também adorava acompanhar a menina Hortense, todas as tardes, ao estábulo das vacas. Aí, ela mudava a cama dos animais (tirava os dejectos para o monte de estrume que ficava a curtir no pátio e que depois era utilizado como adubo para a terra cultivada (de batatas, cebolas, abóboras e cereais), operação que me dava grande gozo presenciar.
Depois de preparada a nova cama com palha e tojo limpos, a Menina Hortense mungia então as vacas, enquanto estas iam abanando a cauda, que muitas vezes lhe batia no rosto: “está quieta Carocha, chega para lá Estrela…” Estes eram alguns dos nomes que me lembro: Carocha porque a vaca era toda preta, Estrela porque tinha uma estrela branca desenhada na testa.
A maior parte do leite era levado para um posto de recolha na Sapataria, por uma rapariga que passava de burro com os respectivos recipientes. Mas algum ficava para consumo da família e para a feitura da manteiga que a Menina Hortense fazia batendo, manualmente, o leite
Memórias 3
Adorava presenciar todas as tarefas associadas à feitura do pão, que na casa da Sra. Maria era feito ao sábado à tarde.
Começava-se com o peneirar da farinha, que vinha do moleiro moída com o farelo. Eram então utilizadas as peneiras que se encontravam penduradas nas paredes da cozinha, divisão térrea de entrada em casa onde se encontrava o forno ao fundo da chaminé, onde também se fazia o lume, a um canto da mesma entre os tijolos preparados para o efeito, para fazer as refeições, que eram tomadas nessa zona da casa, que era o centro da mesma, como, aliás, em todas as casas da aldeia.
Depois de peneirada a farinha (de trigo e de milho, em separado) para os grandes alguidares de barro esmaltado que, depois de lhe ser junto o fermento (pedaço da massa levedada guardado da semana anterior) e água, era amassada braçalmente. Quando esta trabalhosa tarefa era dada como concluída, a Sra. Maria e a Menina Hortense traçavam uma cruz na massa de cada um dos alguidares, tapavam-nos com uns panos brancos muito limpos, e deixavam-na a levedar.
Decorrido o tempo considerado conveniente, procediam então à retirada dos pedaços de massa de farinha que moldavam e colocavam numa pá de cabo comprido para colocar os pães, então formados, no forno, que entretanto fora previamente aquecido com lenha a arder.
Depois de cozidos, os pães eram retirados com a pá e colocados em grandes arcas, envoltos em panos brancos, para irem sendo consumidos durante a semana. Este pão para mim era sempre a maior iguaria do mundo, mesmo com 8 dias!
O farelo amassava-se para fazer pão para os cães, e quando eu era mais crescidinha, e para corresponderem aos meus desejos, aquelas queridas mulheres deixavam que fosse eu a amassá-lo.
Também me davam pedaços de farinha, com os quais eu, radiante, fazia pequeninos pães de trigo e milho, que cozia ao Sol no peitoril da janela.
A Sra. Bernardina, para grande desgosto meu, fazia estas tarefas de madrugada pelo que nunca a podia acompanhar.
Mas da sua casa recordo as noites divertidas, animadas pelas malandrices da minha irmã, a que a Sra. Bernardina correspondia: “ó Sra. Bernardina diga lá otorrinolaringologista”, insistia ela entre as palavras difíceis que queria que a paciente mulher dissesse, e todos nos divertíamos, designadamente o Leonel, com aquelas traquinices a que a Sra. Bernardia correspondia cheia de humor, até desistir de articular palavras enormes que nada lhe diziam.
Outra das tarefas caseiras que eu gostava muito de presenciar era a preparação da comida para o porco, que naquela altura do ano era feita com restos de comida, cascas de batatas e hortaliça cortada. Não sei se ia ao lume nas latas em que era preparada ou se lhe era deitada água quente, mas o cheiro que recordo, parece-me ser daqueles ingredientes meio cozidos.
Começava-se com o peneirar da farinha, que vinha do moleiro moída com o farelo. Eram então utilizadas as peneiras que se encontravam penduradas nas paredes da cozinha, divisão térrea de entrada em casa onde se encontrava o forno ao fundo da chaminé, onde também se fazia o lume, a um canto da mesma entre os tijolos preparados para o efeito, para fazer as refeições, que eram tomadas nessa zona da casa, que era o centro da mesma, como, aliás, em todas as casas da aldeia.
Depois de peneirada a farinha (de trigo e de milho, em separado) para os grandes alguidares de barro esmaltado que, depois de lhe ser junto o fermento (pedaço da massa levedada guardado da semana anterior) e água, era amassada braçalmente. Quando esta trabalhosa tarefa era dada como concluída, a Sra. Maria e a Menina Hortense traçavam uma cruz na massa de cada um dos alguidares, tapavam-nos com uns panos brancos muito limpos, e deixavam-na a levedar.
Decorrido o tempo considerado conveniente, procediam então à retirada dos pedaços de massa de farinha que moldavam e colocavam numa pá de cabo comprido para colocar os pães, então formados, no forno, que entretanto fora previamente aquecido com lenha a arder.
Depois de cozidos, os pães eram retirados com a pá e colocados em grandes arcas, envoltos em panos brancos, para irem sendo consumidos durante a semana. Este pão para mim era sempre a maior iguaria do mundo, mesmo com 8 dias!
O farelo amassava-se para fazer pão para os cães, e quando eu era mais crescidinha, e para corresponderem aos meus desejos, aquelas queridas mulheres deixavam que fosse eu a amassá-lo.
Também me davam pedaços de farinha, com os quais eu, radiante, fazia pequeninos pães de trigo e milho, que cozia ao Sol no peitoril da janela.
A Sra. Bernardina, para grande desgosto meu, fazia estas tarefas de madrugada pelo que nunca a podia acompanhar.
Mas da sua casa recordo as noites divertidas, animadas pelas malandrices da minha irmã, a que a Sra. Bernardina correspondia: “ó Sra. Bernardina diga lá otorrinolaringologista”, insistia ela entre as palavras difíceis que queria que a paciente mulher dissesse, e todos nos divertíamos, designadamente o Leonel, com aquelas traquinices a que a Sra. Bernardia correspondia cheia de humor, até desistir de articular palavras enormes que nada lhe diziam.
Outra das tarefas caseiras que eu gostava muito de presenciar era a preparação da comida para o porco, que naquela altura do ano era feita com restos de comida, cascas de batatas e hortaliça cortada. Não sei se ia ao lume nas latas em que era preparada ou se lhe era deitada água quente, mas o cheiro que recordo, parece-me ser daqueles ingredientes meio cozidos.
Memórias 2
O Casal da Várzea era constituído pelas casas, palheiros, estábulos, etc..de 4 famílias, todas elas unidas entre si por laços familiares.
A família a quem os meus pais alugavam a parte de casa era, inicialmente, porquanto os seus membros mais idosos foram entretanto falecendo, constituída pela Sra. Bernardina, mulher cheia de força que chefiava uma família constituída pelo marido, Sr. Luís, bastante mais velho que ela e com problemas de saúde, por ter sido gazeado na guerra de 1914-1918, a filha Mª Helena (minha companheira de brincadeiras e com quem eu colaborava em pequenas tarefas, como apanhar erva para os coelhos), o filho Leonel, com um elevadíssimo grau de paralisia cerebral (a mãe que, confrontada, aquando do seu nascimento com a questão da sua sobrevivência, tinha optado, sem dúvidas, por que ele vivesse, cuidava-o extremosamente e com os cuidados possíveis no contexto da época), e ainda dois cunhados, um dos quais deficiente mental profundo, o ti Manel, que adorava a minha mãe, “ a ti Atum”, e temia a minha irmã, que lhe fazia muitas partidas, designadamente com o fogo, que o horrorizava (“ ó ti Atum, ó ti Atum, olha a meni que qué fazê mal ao Mané”, queixava-se ele à nossa mãe quando se assustava).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMmIz6yeBC09wEKh-BqNTzofg41ptJMzziXjSYCH9gTlNqU6qcW9GERzpwPi4MBHzBWQW-IExa1JWinogZF3yE5IWjT06Bb4byfv5K-dgxF-ERbulZfoh0PNt_TWBnHhql_k86wCA4R5g-/s400/aida+8.JPG)
A casa era grande, de dois pisos. Em baixo era a cozinha, térrea, onde se desenvolvia toda a vida diária dos habitantes da casa: preparar as refeições, comer, fazer o pão, preparar as comidas para os animais, conversar, enfim, estar.
Desta cozinha subia uma escada para o 1º andar, o qual era constituído por várias divisões de um lado e de outro de um corredor que se estendia ao longo de toda a casa. Esse corredor estava dividido por uma porta, e era depois dessa porta que se encontrava a parte da casa alugada pelo meu pai. Uma das divisões dessa parte da casa tinha porta para um terreno que se estendia ao longo da casa, ao fundo qual era o caminho pelo qual se acedia a todas as casas do Lugar e ao caminho para a Sapataria.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghnNp8xoAo_STmnyGEb10SjHImU8p21wkoavw7CQvxNnDVwEkuwEFxJPHLoVOEKXvY1Cg5CaPVesD61xPTJc339ehbtrJWjgm798RkG1FIG3lUbFqGdTC2FNEMsPz_SOtPwKNRwh4SiZLQ/s400/aida+3.JPG)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjjKcD8Fq1Tt9N1VXmYfAOsVW9-tyr184KjS_T0ANwrymQ5F5qB6kyl72_EbtR06Ul9lYzCCEwQ1JoOm1KjhyGn02qub40XpSOca9DaVRr7CgInmCdfM6sMTQHdI9dodiiV82eYN3lLAjk/s400/aida+4.JPG)
Da “cozinha da Sra. Bernardina” passava-se, pelo interior, quer para a casa dos animais, galinha, perus, etc... e, julgo, também ovelhas, quer para o palheiro, que tinha uma porta para um grande “pátio”, para onde também se acedia por uma porta da cozinha, que era aliás aquela que nós todos, incluindo os inquilinos, utilizávamos com maior frequência para entrar e sair de casa.
No pátio, e em frente à porta da cozinha, situava-se ainda a pocilga com o porco e também uma outra construção que me recordo ser também o abrigo da cadela. Para esse espço dava também a casa das burras, que era contígua ao palheiro.
Esse pátio era fechado e tinha dois portões, um dava para o terminus do caminho da Várzea e o outro para o “eucaliptal da Sra. Bernardina” e para as terras, sua propriedade, que, após um certo declive ( ao fundo do qual se encontravam, a cerca de 50 metros o poço e o tanque), se estendiam pelo monte acima.
Naquele eucaliptal desenrolavam-se muitas das brincadeiras com a Mª Helena. Era aí, que, com os caquinhos de tijolos e telhas, as folhas de eucalipto transformadas em peixe espada e as agulhas dos pinheiros (previamente preparadas) como chouriços, que nós fazíamos as comidinhas. Lembrou-me a minha sobrinha Cristina que, também, raspando aqueles caquinhos, fazíamos o colorau para os temperos! A minha irmã Linda também colaborava. Com grande engenho, e com um canivete, transformava bogalhos em tachinhos e panelas, com tampas e tudo!
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9InS_0fxOozfzSpEzdikilCOjEjG227r5jPlnLY65F0yp5Hpy5yh2W50D4_8V1twDKo57b5ndvhPLo_uKOL7FYrn-Zx4eO7-5DM0uUmSqk5bEB9n8NseDbJPcTrXWTAfC6opooKvl-WCx/s400/aida+5.JPG)
O Sr. Luís era irmão do Sr. André, que morava num conjunto habitacional contíguo. Casado com a Sra. Maria, com eles viviam a sua filha, a Menina Hortense (de quem recordo a doçura e o sorriso tímido que sempre lhe conheci),e o marido, o Sr. João, casal que entretanto veio a ser pais de uma menina linda, a Leonilde, cerca de 5 anos mais nova que eu.
Desta família emanava uma harmonia e uma afectuosidade entre todos os seus membros, e mais especificamente entre mãe e filha e entre esta e o seu marido “o meu senhor”, como ela dizia, que são das impressões mais marcantes que eu tenho dessa época.
Era aliás, naquela casa que eu passava grande parte do tempo, ocupada a ver as tarefas caseiras e até a colaborar nas mesmas, quando tal me era permitido por aquelas queridas mulheres .
No Casal da Várzea vivia também um outro filho do Sr. André e da Sra. Maria, com a sua família, e ainda outro casal com o seu filho, cuja mulher, a Menina Maria prima das outras famílias, era uma personagem fantástica pela sua vivacidade, maravilhosos olhos verdes e sorriso (e riso) constante, num rosto bem talhado, com o cabelo muito escuro penteado em carrapito, como todas as mulheres dali, naquela época.
Esta Menina Maria, que trabalhava na casa da família rica da terra, andava sempre impecavelmente arranjada, com uns aventais branquíssimos, cujas passagens (cozer da roupa entrançado, não sei como explicar hoje, quando já nem são fabricadas linhas para este efeito), nem se notavam tal era a perfeição da sua costura. Foi esta senhora que ensinou a minha irmã Linda a passajar, que aprendeu a fazê-lo, não com a mesma perfeição (era impossível, mas muito bem.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_pevIM49zsDDNYyIZmnoQdhP4ME33FaQAmKL_PGe6quXljnXwuHH74dziqr4I7trSDGWS6bfawg-IzFrUCGhCOqcJOXSg6Nv70izd-j6mjzLS3hrbOJBUI0Hz0yJjl75OpZ7gi2DD5Af5/s400/aida+6.JPG)
Na foto, o avental branco é da Menina Maria, que ficou cortada
A família a quem os meus pais alugavam a parte de casa era, inicialmente, porquanto os seus membros mais idosos foram entretanto falecendo, constituída pela Sra. Bernardina, mulher cheia de força que chefiava uma família constituída pelo marido, Sr. Luís, bastante mais velho que ela e com problemas de saúde, por ter sido gazeado na guerra de 1914-1918, a filha Mª Helena (minha companheira de brincadeiras e com quem eu colaborava em pequenas tarefas, como apanhar erva para os coelhos), o filho Leonel, com um elevadíssimo grau de paralisia cerebral (a mãe que, confrontada, aquando do seu nascimento com a questão da sua sobrevivência, tinha optado, sem dúvidas, por que ele vivesse, cuidava-o extremosamente e com os cuidados possíveis no contexto da época), e ainda dois cunhados, um dos quais deficiente mental profundo, o ti Manel, que adorava a minha mãe, “ a ti Atum”, e temia a minha irmã, que lhe fazia muitas partidas, designadamente com o fogo, que o horrorizava (“ ó ti Atum, ó ti Atum, olha a meni que qué fazê mal ao Mané”, queixava-se ele à nossa mãe quando se assustava).
A casa era grande, de dois pisos. Em baixo era a cozinha, térrea, onde se desenvolvia toda a vida diária dos habitantes da casa: preparar as refeições, comer, fazer o pão, preparar as comidas para os animais, conversar, enfim, estar.
Desta cozinha subia uma escada para o 1º andar, o qual era constituído por várias divisões de um lado e de outro de um corredor que se estendia ao longo de toda a casa. Esse corredor estava dividido por uma porta, e era depois dessa porta que se encontrava a parte da casa alugada pelo meu pai. Uma das divisões dessa parte da casa tinha porta para um terreno que se estendia ao longo da casa, ao fundo qual era o caminho pelo qual se acedia a todas as casas do Lugar e ao caminho para a Sapataria.
Da “cozinha da Sra. Bernardina” passava-se, pelo interior, quer para a casa dos animais, galinha, perus, etc... e, julgo, também ovelhas, quer para o palheiro, que tinha uma porta para um grande “pátio”, para onde também se acedia por uma porta da cozinha, que era aliás aquela que nós todos, incluindo os inquilinos, utilizávamos com maior frequência para entrar e sair de casa.
No pátio, e em frente à porta da cozinha, situava-se ainda a pocilga com o porco e também uma outra construção que me recordo ser também o abrigo da cadela. Para esse espço dava também a casa das burras, que era contígua ao palheiro.
Esse pátio era fechado e tinha dois portões, um dava para o terminus do caminho da Várzea e o outro para o “eucaliptal da Sra. Bernardina” e para as terras, sua propriedade, que, após um certo declive ( ao fundo do qual se encontravam, a cerca de 50 metros o poço e o tanque), se estendiam pelo monte acima.
Naquele eucaliptal desenrolavam-se muitas das brincadeiras com a Mª Helena. Era aí, que, com os caquinhos de tijolos e telhas, as folhas de eucalipto transformadas em peixe espada e as agulhas dos pinheiros (previamente preparadas) como chouriços, que nós fazíamos as comidinhas. Lembrou-me a minha sobrinha Cristina que, também, raspando aqueles caquinhos, fazíamos o colorau para os temperos! A minha irmã Linda também colaborava. Com grande engenho, e com um canivete, transformava bogalhos em tachinhos e panelas, com tampas e tudo!
O Sr. Luís era irmão do Sr. André, que morava num conjunto habitacional contíguo. Casado com a Sra. Maria, com eles viviam a sua filha, a Menina Hortense (de quem recordo a doçura e o sorriso tímido que sempre lhe conheci),e o marido, o Sr. João, casal que entretanto veio a ser pais de uma menina linda, a Leonilde, cerca de 5 anos mais nova que eu.
Desta família emanava uma harmonia e uma afectuosidade entre todos os seus membros, e mais especificamente entre mãe e filha e entre esta e o seu marido “o meu senhor”, como ela dizia, que são das impressões mais marcantes que eu tenho dessa época.
Era aliás, naquela casa que eu passava grande parte do tempo, ocupada a ver as tarefas caseiras e até a colaborar nas mesmas, quando tal me era permitido por aquelas queridas mulheres .
No Casal da Várzea vivia também um outro filho do Sr. André e da Sra. Maria, com a sua família, e ainda outro casal com o seu filho, cuja mulher, a Menina Maria prima das outras famílias, era uma personagem fantástica pela sua vivacidade, maravilhosos olhos verdes e sorriso (e riso) constante, num rosto bem talhado, com o cabelo muito escuro penteado em carrapito, como todas as mulheres dali, naquela época.
Esta Menina Maria, que trabalhava na casa da família rica da terra, andava sempre impecavelmente arranjada, com uns aventais branquíssimos, cujas passagens (cozer da roupa entrançado, não sei como explicar hoje, quando já nem são fabricadas linhas para este efeito), nem se notavam tal era a perfeição da sua costura. Foi esta senhora que ensinou a minha irmã Linda a passajar, que aprendeu a fazê-lo, não com a mesma perfeição (era impossível, mas muito bem.
Na foto, o avental branco é da Menina Maria, que ficou cortada
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