domingo, 28 de fevereiro de 2010

Memórias 14

Tal como a Cristina,também eu gostava bem dos candeeiros de petróleo, e recordo como eram agradáveis os serões que passávamos a jogar às cartas à sua luz, eu, a Linda e o nosso pai, quando este vinha ao fim de semana. Não me lembro da minha mãe jogar, mas também não vejo que fosse possível jogar à sueca sem sermos 4 os parceiros. E nós jogávamos à sueca, para além da bisca e do burro.

Lembro-me de nós as duas (eu e a Linda, claro) jogarmos muito ao burro em pé, e depois, quando eu era mais velhinha, ao crapô (será que é assim que se escreve?). Passávamos horas a jogar este jogo em cima da cama da Linda. Também jogávamos às Damas. A Linda fez um tabuleiro em cartão forrado a papel branco onde ela desenhou os quadrados e pintou uma parte deles a vermelho. Também fez as pedras com que jogávamos. Serrou rodelas no número necessário de um cabo de vassoura e pintou uma parte delas com vioxene (como se escreverá?) que é uma espécie de tinta castanha utilizada para a madeira.).

E assim passávamos agradáveis horas, sem necessidade de rádio (que até o meu pai comprar uma telefonia a pilhas, antes de termos electricidade instalada) ou de televisão (que também só passou a haver mais tarde).

Claro que quando passou a haver televisão na Sapataria, no café do Armandino (nessa altura ainda não era dele mas do pai, o Sr. Barros, que tinha também , há muito tempo, uma “loja” na Moita, e que era correspondente do jornal, julgo que do Século), passei a lá ir com algumas pessoas dos Galegos, julgo que com o Chico, rapazinho filho da Sra. Adelina, e, penso também com esta, e possivelmente com a Maria Odília e o João Fernando, filhos da Menina Maria e do Sr. João Novo. E tenho a impressão que uma vez fui, para lá sozinha, embora fosse noite (as emissões eram só à noite, despois das 21 horas) e fossem 20 minutos de caminho sem qualquer iluminação.

Mas antes, e quando era mais pequena, a nossa diversão nocturna, depois de nos deitarmos, era adivinharmos canções. Uma entoava a melodia e a outra tinha que adivinhar qual era a canção. A Linda facilmente identificava as que eu cantarolava, agora eu não conseguia identificar nenhuma. E porquê? Porque eu tinha mau ouvido ? Não, porque a Linda era mais que desentoada. Quando,após várias tentativas, eu desistia de adivinhar e ela dizia qual era a canção, era a gargalhada geral. Recordo-me bem da nossa mãe nos mandar calar e nós continuarmos naquela brincadeira até ela se zangar porque era tarde e no outro dia iriamos acordar também tarde.

Como a casa era "nossa" e tinha vários quartos, passámos a ter "visitas" a passarem alguns dias connosco. Os filhos da minha irmã mais velha eram presença habitua´l e passavam temporadas connosco, mas também aquela esteve, por vezes, lá alguns dias de férias, tal como o meu irmão e família.

Esta foto foi tirada ao pé da "eira do Sr. Domingos", exactamente sobre o declive para onde a Linda caíu quando foi buscar a bola de voley, e de onde saiu toda arranhada, como já relembrei em "memória" anterior
Ao longe vê-se a Moita, hoje descaracterizada por um conjunto habitacional (que não tem nada a ver com a zona rural que esta fregesia é) na estrada que sobe para aquele local

Também aqui foi tirada esta foto, quando eu teria os meus 12, 13 anos, altura em que fui bastante "gordinha"


De vez em quando iam visitar-nos irmã do meu pai que vivia no Cacém, a tia Elisa, com o tio Zé, e o seu horroroso cãozinho, velhote e todo deformado.

Também me recordo de lá ter ido o tio Alexandre (irmão mais velho de minha mãe, que era professor em Viana do Castelo), e a tia Rita, e de ter ido passear com eles a Mafra.
Lembro-me como me diverti com os ciúmea do meu tio na estação de comboio de Mafra:"Ritinha, olha a saia, não vês que estás a mostrar as pernas!" Isto quando a minha tia já teria mais de 50 anos, e os homens presentes eram jovens militares!

Mas tínhamos outras visitas para além da família.Tivemos várias vezes a visita de uma senhoara amiga da minha mãe, a D. Silvina, com as suas duas filhas (mais ou menos da idade da Linda), e durante alguns anos da minha adolescência a companhia da minha amiga Isabel, que durante uns anos passava, com os pais, 8 ou 15 dias de férias connosco. Nessa altura já a Linda trabalhava e era esta grande amiga a minha companhia mais desejada e apreciada.