Não consigo hierarquizar, mas se calhar, o que eu mais gostava daqueles verões na Várzea era das atarefas associadas às colheitas. Não propriamente ao ceifar, de que não tenho qualquer memória, mas ao debulhar.
Para este efeito eram preparadas as eiras. Num terreno imediatamente abaixo do eucaliptal que ficava nas traseiras da casa da Sra. Bernardina, era preparada a eira do Sr. João.A eira era um es+aço redondo, feita com palha e água, pisadas pelas ovelhas do Sr. Fernando, que andavam à volta,à volta sobre aquela mistura (segundo me lembrou a minha amiga Mª Helena de molde a fazer aquel terra dura e mais clara do que a que a circundava, e que não se esboroava.
Lembro-me que o feijão e o grão eram debulhados com o mangual, peça de difícil manuseamento (era constituída por 2 paus ligados por uma correia), mas que era utilizada pelos homens com mestria.Mass o que eu recordo com alegre saudade, passe a contradição, era a debulha do trigo.
Esta era feita com um carro constituído por um cilindro cravejado de pregos, sobre o qual assentava um estrado com um banco corrido para se sentar quem dirigia os bois que puxavam aquele instrumento. Às vezes o Sr. João confiava essa tarefa à minha irmã, e eu ia sentada ao seu lado.
Adorava também presenciar o trabalho do criadito do Sr. João, que seguia atentamente os bois para limpar os seus dejectos.
Parece-me que não havia melhor coisa no Verão que aquela debulha. Ou haveria?
Talvez a “escarapelada” (assim ali se denominava a retirada da palha da maçaroca de milho, que se fazia à noite à luz dos petromax e que juntava toda a família alargada), fosse ainda melhor! Pelo menos era(m) uma(s) noite(s) de grande brincadeira e alegria: a Menina Maria tinha sempre graças e histórias para contar entre os seus risos e brilho dos olhos e, o mais divertido, eram os beijinhos e beliscões, determinados pelo tipo de milho da maçaroca, que constituíam sempre motivo de gargalhadas e grande algazarra.
Mas também adorava acompanhar a menina Hortense, todas as tardes, ao estábulo das vacas. Aí, ela mudava a cama dos animais (tirava os dejectos para o monte de estrume que ficava a curtir no pátio e que depois era utilizado como adubo para a terra cultivada (de batatas, cebolas, abóboras e cereais), operação que me dava grande gozo presenciar.
Depois de preparada a nova cama com palha e tojo limpos, a Menina Hortense mungia então as vacas, enquanto estas iam abanando a cauda, que muitas vezes lhe batia no rosto: “está quieta Carocha, chega para lá Estrela…” Estes eram alguns dos nomes que me lembro: Carocha porque a vaca era toda preta, Estrela porque tinha uma estrela branca desenhada na testa.
A maior parte do leite era levado para um posto de recolha na Sapataria, por uma rapariga que passava de burro com os respectivos recipientes. Mas algum ficava para consumo da família e para a feitura da manteiga que a Menina Hortense fazia batendo, manualmente, o leite