E a liberdade gozada? Eu e a minha irmã só íamos a casa para comer e dormir. Eu entretida com as brincadeiras com a minha amiga, ou a presenciar o que atrás descrevi, a Linda acompanhando o Sr. Luís, que dada a sua pouca saúde apenas apanhava ervas para as burras, a Carriça, castanha e dócil, e a Russa, mais independente. Durante a deslocação até à borda do riacho onde apanhava as ervas, e durante o desempenho desta tarefa, ele contava-lhe as histórias da Grande Guerra, que acabavam por ser sempre as mesmas. Mas nem por isso, parece, a conversa deixava de ter interesse para a minha irmã.
A minha mãe quando nos queria chamar utilizava um apito. Um assobio era para chamar uma de nós, dois para chamar a outra.
E a memória que tenho do que vestia, era para além dos vestidos das fotos ( e talvez a memória corresponda aos meus primeiros anos de idade), é a de uns macaquinhos de tecido de algodão apenas com calções e alças cruzadas. E muitas vezes andava também descalça, e no campo, com tantos picos e pedras, não sei como não me magoava…
Não existindo casa de banho nem banheira, o banho era tomado no tanque da roupa, junto ao poço.
Mas a água desse poço não era boa para beber e eu e a Linda íamos todos os dias buscar água à mina, que ficava a 20, 30 minutos de caminho. Mas era um passeio sempre agradável, não constituía sacrifício nenhum! A não ser um dia em que no caminho estava uma pequena cobra morta. Com o terror que ela tinha a tal bicho foi-lhe difícil continuar o caminho, e lembro-me bem o que me diverti à custa dela, por dar uma volta enorme para não passar ao pé do animal morto!