O Lugar dos Galegos, que ficava do lado oposto à Várzea e do outro lado da estrada da Sapataria, a cerca de 20 minuto da sede da freguesia. Àquele Lugar acedia-se por um caminho ligeiramente ascendente que, ao contrário do caminho da Várzea (de pedra, umas vezes grandes lajes, mais pequenas e, por vezes soltas, outras), era de terra, poeirenta.
A nossa casa ficava do lado esquerdo do cminho, num pequeno largo à volta do qual se encontravam várias outras casas. De um lado da entrada deste largo ficava a casa de uns velhotes (o Sr. José Novo e mulher) e do outro a da Menina Aurélia (filha deste), casada com o Sr. Manuel.
Ligadas à casa do Sr. José ficavam umas casas térreas, a que se seguia a nossa, de dois pisos. A esta acedia-se por uns degraus, poucos, ao cimo dos quais se encontrava uma pequena varanda onde se situava a porta de entrada da casa. Por esta porta acedia-se à casa de jantar, com uma mobília modesta (mesa, cadeiras, armário alto, e ao fundo, numa reentrância quadrada, um pequeno armário no tampo do qual, sobre um naperon também verde e que ainda guardo na casa da Ribeirinha –Águas-, onde ainda vejo com toda a clareza uma jarra de vidro castanho claro transparente), toda pintada de verde.
Na parede do lado esquerdo de quem entrava, estava colocado um cabide para os casacos, também em madeira pintada de verde. Ao longo da parede lateral esquerda, se a memória não me engana, estava ainda um divã.
Logo no início da parede do lado direito ficava a porta de acesso à cozinha. Nesta situava-se a chaminé (ao fundo), com os fogareiros de petróleo onde a minha mãe cozinhava. Na parede contígua e perpendicular à mesma, e sob a escada que subia para o 1º andar, encontrava-se um balcão de cimento, de onde pendia uma cortina de chita vermelha, sobre o qual se encontravam os alguidares para lavar a loiça bem como os recipientes para a água que se ia buscar “à bomba” (poço, de onde se tirava a água com uma bomba). Este situava-se no caminho que descia do lado de baixo do caminho principal (que, passando pelos Galegos, ligava a Sapataria à Guia - outro Lugar sobranceiro aos Galegos -, ao nível do qual se encontrava um monte com dois moinhos, que ainda hoje se avistam quando passamos na A8).
Ao lado da chaminé, encontrava-se um armário, que na parte superior tinha um mosqueiro, onde a minha mãe guardava a carne, o peixe, a manteiga, etc.
Encostada à outra parede estava a mesa da cozinha onde se guardava a loiça na parte de baixo e, na gaveta que o mesmo tinha por cima, os talheres, e onde a minha mãe preparava as refeições.
Do fundo da cozinha saia-se para uma pequena divisão pela qual se acedia à casa de banho e ao quintal.
Pela escada atrás referida acedia-se aos quartos. Aliás era um único quarto do que aparentava ter sido uma parte de uma casa de lavradores ricos antiga, e que integraria a casa contígua. Este grande quarto estava dividido em quatro por tabique de madeira. Pelo primeiro, onde terminava a escada acedia-se ao terraço que o meu pai mandou fazer, que dava para as traseiras da casa. Neste havia do lado esquerdo, um banco de cimento que o acompanhava até ao seu limite e, do outro, o reservatório de água para uso na casa de banho, que ficava por baixo.
Deste terraço, onde apanhávamos” ricos” banhos de sol, avistava-se o eucaliptal sobranceiro à casa, ultrapassado um terreno de cultivo contíguo à parte superior do quinta.
Os dois quartos que davam para a frente da casa tinham, cada um deles, dois bancos de pedra a ladear a janela de onde se avistavam campos que se espraiavam até à Sapataria, “o mato da Sapataria” à direita dos mesmos, a Moita (Lugar por onde passávamos na subida para a Várzea) e os montes em frente - entre os quais se situava a Várzea -, que não se vislumbrava.
Aqueles bancos davam um enorme encanto aos quartos, um dos quais era o nosso (meu e da minha irmã).