Outra coisa que me custava muito era a tarefa, que me estava atribuída pela minha mãe, de pregar os botões que eventualmente faltassem nas fronhas das almofadas. Assim, quando íamos para o pinhal, o que acontecia todos os dias, lá tínhamos que levar junto (com umas almofadas coloridas e com uns folhos, para nos recostarmos quando nos deitássemos), a caixa da costura e algumas peças de roupa, umas para eu pregar os botões, outras para a Linda passajar. A memória que eu tenho é que isso acontecia todos os dias, o que não deve ser real, pois com certeza não haveria tantos botões para pregar, nem coisas para passajar! Hoje atribuo a minha falta de gosto em coser com essa “terrível”obrigação.
Mas era tão bom ir para o pinhal! Seguíamos para o lado direito da casa, e no fim do caminho para ainda davam a porta da entrada da casa do Sr. Fernando “pastor” (contígua à nossa casa)e uma grande porta de um armazém do Sr. António Miguel (que penso teriam integrado o conjunto da grande casa de que a nossa teria feito parte) começava um estreito caminho, sobranceiro à vinha do Sr. João Novo sob o pinhal para onde íamos. Deste caminho “trepávamos” para um terreno de restolho (de trigo, com certeza, já ceifado nessa altura) por onde acedíamos ao pinhal. Sobre aquele terreno pendiam a maior parte dos ramos de um grande pinheiro, cheios de pinhas. A Linda, sempre cheia de força e energia (e pontaria), atirava, de um plano mais elevado desse terreno, pedras às pinhas que, depois, apanhávamos do chão, cheias de pinhões, ao mesmo tempo que apanhávamos os pinhões que caíam com o embate das pedras nas pinhas ou destas no chão. Depois estávamos por ali, não me recordo a fazer o quê para além das costuras…
Quando eu já era mais crescidinha (a partir dos 11, 12 anos) e a conseguir dar uns toques, passávamos grande parte do tempo a jogar voley numa eira, julgo que do Sr. Domingos, que ficava num terreno entre o pinhal e o eucaliptal, jogarmos voley.
E a estes toques de voley está associado um episódio que eu e a Linda recordamos entre irreprimíveis gargalhadas. A eira ficava sobranceira ao caminhito que atrás referi, e o desnível entre estes era preenchido por um matagal de silvas.
Uma vez, a preciosa bola caiu para as silvas e a Linda debruçou-se para a apanhar, mas com tal infelicidade que caiu para o meio das silvas! Quando conseguiu desenvencilhar-se e subir até junto da eira, tinha todo o corpo (mas todo, desde a cara aos braços, pernas, pés) arranhado e a sangrar. Hoje rimo-nos as duas, mas naquele dia só eu ria sem conseguir parar, porque ela, coitada, estava bem dorida!