Guardo, também, muito boas recordações das férias que vivi nos Galegos dos 9 aos 17 anos. A partir dos meus 18 anos aquelas tornaram-se mais curtas pois empreguei-me com essa idade, e aos 22 anos mudámos de casa de férias para o Largo da Sapataria. Depois de uma pequena casa, passámos a para uma casa antiga mas bonita, que dpois do falecimento do nosso pai mantivemos alugada em meu nome e dos meus dois irmãos mais velhos,eque que mantivemos ainda durante alguns anos, aproximadamente até fazermos a a nossa casa em Monte Arroio.
Entre as várias recordações estão as sopas de leite, feitas numas grandes tigelas, que a nossa mãe nos ia levar à cama, já com a manhã adiantada.
No meu caso, as sopas eram de café (de cevada) com leite, porque não gostava de leite e muito menos do leite gordíssimo da vaca (velha e magra) pertencente à Menina Jacinta, dona de uma quinta que ficava a meio caminho entre a Sapataria e os Galegos, onde o íamos comprar.
Eu não gostava do leite, mas adorava comer as natas com açucar. Para mim era um manjar delicioso, e também suculento, pois, após a sua fervura, o leite apresentava uma espessa capa de nata, que eu retirava para fazer o "pitéu".
A partir do princípio de Setembro, este pequeno-almoço era precedido de deliciosos figos que eu e a Linda íamos colher a uma figueira alugada pelo nosso pai para o efeito. Recordo que a minha irmã Maria Cecília também ia connosco, quando lá estava a passar alguns dias de férias.Segundo me recorda a minha sobrinha Cristina, também os meus sobrinhos nos acompanhavam. Mas em cima da figueira só me lembro de nós as três. Nunca me esqueci do susto que apanhei quando a a minha irmã mais velha partiu um tronco em que se encontrava empoleirada e caiu, mas, felizmente,não se magoou.
E nós comíamos tanta fruta! Todos os dias, à tarde, íamos à Quinta da Menina Jacinta com um grande fervedouro para trazer o leite, e vínhamos também sempre com um cesto, de trazer no braço, como lá se usava, carregado de fruta. Recordo o inexcedível paladar das peras carapinheiras, pérola e, mais para o meio do Verão, francesa. A partir do início de Setembro a minha mãe comprava-lhe também uvas.
Era também a Menina Jacinta que fornecia todos os produtos hortícolas, e recordo como gostava de a acompanhar até à horta, quando ela os ia colher para nós.
Mas nesse mês havia também as deliciosas maçãs reinetas, cujo paladar nunca mais encontrei igual, e que eram nessa altura o meu fruto preferido. A nossa mãe costumava comprar um ou dois cestos grandes, das vindimas, cheios daquelas maçãs, ao Sr. António Miguel, que também morava nos Galegos, mesmo no caminho que lhe dava acesso, e que seria o segundo homem mais rico da Sapataria (seria tão rico como era gordo e mulherengo), e que nos desagradava profundamente. Durante muitos anos não gostei deste nome, porque o associava àquela personagem.
Recordo um episódio relacionado com esta família, aonde também passámos, a partir de certa altura, a comprar leite. No quintal, ao lado da casa e ao longo da mesma, havia um arame onde se encontrava preso, com uma corrente que deslizava ao longo daquele, um grande e inamistoso cão. Um dia o Alfredo, ainda rapazinho, quando, julgo, ia comprar o leite, entrou no portão que ficava do lado do cão e foi mordido por este. Mas o acidente veio a valer-lhe a admiração da família, porque ele desenvencilhou-se sozinho, conseguindo fugir apenas com uma dentada (muito grande) após ter apertado com as suas próprias mãos a boca do cão!